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Vendas a crédito dão sinais de reação

Guarulhos, 11 de março de 2002

As vendas a crédito devem alavancar o crescimento do varejo em 2002 e essa retomada já começa dar os primeiros sinais. Uma única coisa preocupa economistas e empresários do segmento: a inadimplência.

A intensidade do aumento do movimento ainda está na dependência da evolução do pagamento de dívidas em atraso. “O aumento dos carnês em atraso em fevereiro, por si só isoladamente não quer dizer nada”, diz o economista da Associação Comercial de São Paulo, Emílio Alfieri. Em fevereiro, de acordo com pesquisa da Associação Comercial os registros recebidos cresceram 1,4% em relação a fevereiro de 2001 (285.807 registros recebidos) e 7,2% em relação a janeiro último. Mas a situação muda quando se compara o primeiro bimestre dos dois anos.

Queda – Os carnês em atraso (registros recebidos) no primeiro bimestre de 2002 em São Paulo somaram 559.725, volume 10,6% inferior aos anotados em igual período do ano passado. Entretanto, o número de pessoas com dívidas em atraso em janeiro e fevereiro deste ano ainda é 17,2% maior ao contabilizado em 2000 (477.759 registros recebidos), um ano com inadimplência muito baixa. Mas todos as demais variáveis da economia sinalizam que 2002 será um período de retomada de vendas. “A Copa do Mundo, o fim do racionamento, a redução da taxa de juros e a queda da inflação, que deve implicar em novas reduções da taxa de juros básica, são fatores que ajudarão impulsionar a venda a crédito”, diz Alfieri. Mas o grau de recuperação da economia será mais forte ou mais fraco, de acordo com a evolução do calote. “Se a inadimplência for menor em março e nos meses subseqüentes a recuperação será mais intensa”, explica Alfieri. Caso o endividamento do consumidor cresça, não anulará os outros fatores, mas determinará um ritmo inferior de expansão das vendas, já que endividado o consumidor não consegue comprar.

O economista da Associação Comercial lembra que acontecimentos externos como a recuperação da economia norte-americana e a esperança de que finalmente a Argentina feche um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) ajudarão a melhorar o cenário. Isso, aliado aos outros fatores internos como a Copa do Mundo, o fim do racionamento e a queda da inflação, trarão um horizonte mais firme para a economia brasileira.

Retomada – O presidente da Associação Nacional das Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimentos, Acrefi, Ricardo Malcon, já enxerga uma leve retomada dos negócios a crédito por conta das promoções do varejo, especialmente do segmento de carros novos. “Algumas marcas já estão ampliando prazos e oferecendo juros subsidiados que variam de 0,99% a 1,99% ao mês”, diz. Jornais paulistas de grande circulação anunciavam no primeiro domingo do mês vendas parceladas de carros zero quilômetro em até 50 meses. “A crise argentina deixou o brasileiro receoso e com medo do endividamento”, diz Malcon. O mês de fevereiro mais curto e, com Carnaval, também atrapalhou as vendas e a procura por crédito. Segundo Malcon, a inadimplência nos dois primeiros meses do ano não é preocupante. “Nesse período, o consumidor está em férias e, em seguida, enfrenta a volta às aulas, com mais gastos”. Malcon lembra que uma avaliação mais profunda só poderá ser feita em abril.

Médio prazo – A rede Lojas Riachuelo, com 72 unidades, está prevendo uma retomada dos negócios a crédito somente para maio. Essa rede que distribui artigos de moda – roupas, calçados, bijuterias etc – mantém financiamento próprio. Parcela as compras de sua freguesia em até cinco vezes sem juros e cobra juros de 3,9% ao mês nos financiamentos em seis e sete prestações. “Só com o Dia das Mães e a mudança de estação e entrada da nova coleção as vendas devem crescer”, diz José Antonio Rodrigues, gerente geral de Crédito e Cobrança da empresa. Ele também admite que nos dois primeiros meses do ano as vendas não deslancham. “O consumidor enfrenta férias de verão, Carnaval e depois os gastos com material escolar e impostos”, diz. O gerente de crédito explica que a inadimplência alta tem impedido uma redução maior dos juros no varejo. Lojas Riachuelo trabalha com uma taxa média de inadimplência de 4%. “Em 2002, a inadimplência de nossa empresa está caindo 25% em relação ao nível de 2001. O segredo: a seletividade na hora de conceder o crédito e a utilização de uma sistemática mais eficaz, totalmente automatizada”, diz.

A expectativa é de que ocorra uma recuperação maior dos crédito – mais gente pagando dívidas em atraso – ainda no primeiro semestre. Os registros cancelados (dívidas em atraso pagas) em fevereiro último na Capital chegaram a 171.120, com um aumento de 24,8% em relação a fevereiro de 2001 e queda de 11,4% em relação aos números de janeiro. “Com uma inadimplência menor as vendas vão deslanchar”, diz Rodrigues.

Expectativa – Apesar das crises vivenciadas pela economia brasileira no ano passado, a financeira Losango, do grupo Lloyds TSB, registrou um crescimento de 10% em 2001 nos financiamentos feitos em parcerias com lojas (CDC), em relação aos números do ano passado. Somente no último trimestre, a expansão foi de 15%. Segundo o diretor de Desenvolvimento de Novos Negócios, Leandro Vilain, a expectativa da empresa é de avançar mais este ano, atingindo um aumento de 15% nos negócios com CDC. Para isso, a empresa vem investindo forte em marketing, com previsão de fazer inversões de R$ 20 milhões em 2002 (foram R$ 25 milhões no ano passado).

Teresinha Matos