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Venda de ações do BB provoca investigação

Guarulhos, 16 de abril de 2002

Um volume anormal de negócios com ações do Banco do Brasil na Bolsa de Valores de São Paulo dias antes de o governo anunciar a venda de 16% de sua participação no banco estatal, na última quinta-feira, caiu na malha fina da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A autarquia, responsável pela fiscalização do mercado de capitais, está investigando quem comprou e vendeu ações do banco antes do anúncio oficial. Suspeita de uso de informação privilegiada.

Isso porque, no dia 9, a dois dias do anúncio oficial da operação que poderá movimentar algo em torno de R$ 1,66 bilhão (estimativa com base na média de ontem), a procura por papéis do Banco do Brasil chegou a 7,167 milhões de ações. O número destoa do movimento diário dos dez dias anteriores na Bovespa. Equivale a quase o dobro da média diária registrada desde o início do ano, que era de 3,35 milhões de ações.

Mas não pára no dia 9. Um acompanhamento mais detalhado mostra uma procura crescente a partir do dia 1° de abril. Desde então, o volume diário de negócios com papéis do Banco do Brasil registrou saltos entre os dias 2 e 3 e novamente entre 8 e 9. Até a véspera da divulgação do governo, o lote de mil ações subiu 18,40%, saindo dos R$ 11,85 do final de março para R$ 14,03.

Uso de informação privilegiada é crime sujeito a prisão pela nova Lei das Sociedades Anônimas, aprovada este ano pelo Congresso. “É tudo suspeito e estamos investigando. Vamos ouvir os envolvidos para checar se é o caso de instalar um inquérito”, informou a diretora da CVM Norma Parente. Membros da administração do banco só serão chamados se tiverem operado no período.

Na opinião de ex-integrante da CVM, a disparada de negócios no dia 9 é sinal suficiente de que algo “errado” ocorreu. Mais cético, um outro analista, também ex-funcionário do órgão, acha muito difícil pegar o uso de informação privilegiada. Norma Parente concorda que “é realmente complicado chegar a uma conclusão”, mas é possível levantar indícios. À luz da nova lei, é o suficiente para o Ministério Público Federal entrar na história.