Venda de ações do BB provoca investigação
Um volume anormal de negócios com ações do Banco do Brasil na Bolsa de Valores de São Paulo dias antes de o governo anunciar a venda de 16% de sua participação no banco estatal, na última quinta-feira, caiu na malha fina da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A autarquia, responsável pela fiscalização do mercado de capitais, está investigando quem comprou e vendeu ações do banco antes do anúncio oficial. Suspeita de uso de informação privilegiada.
Isso porque, no dia 9, a dois dias do anúncio oficial da operação que poderá movimentar algo em torno de R$ 1,66 bilhão (estimativa com base na média de ontem), a procura por papéis do Banco do Brasil chegou a 7,167 milhões de ações. O número destoa do movimento diário dos dez dias anteriores na Bovespa. Equivale a quase o dobro da média diária registrada desde o início do ano, que era de 3,35 milhões de ações.
Mas não pára no dia 9. Um acompanhamento mais detalhado mostra uma procura crescente a partir do dia 1° de abril. Desde então, o volume diário de negócios com papéis do Banco do Brasil registrou saltos entre os dias 2 e 3 e novamente entre 8 e 9. Até a véspera da divulgação do governo, o lote de mil ações subiu 18,40%, saindo dos R$ 11,85 do final de março para R$ 14,03.
Uso de informação privilegiada é crime sujeito a prisão pela nova Lei das Sociedades Anônimas, aprovada este ano pelo Congresso. “É tudo suspeito e estamos investigando. Vamos ouvir os envolvidos para checar se é o caso de instalar um inquérito”, informou a diretora da CVM Norma Parente. Membros da administração do banco só serão chamados se tiverem operado no período.
Na opinião de ex-integrante da CVM, a disparada de negócios no dia 9 é sinal suficiente de que algo “errado” ocorreu. Mais cético, um outro analista, também ex-funcionário do órgão, acha muito difícil pegar o uso de informação privilegiada. Norma Parente concorda que “é realmente complicado chegar a uma conclusão”, mas é possível levantar indícios. À luz da nova lei, é o suficiente para o Ministério Público Federal entrar na história.