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Vem aí o remédio “genérico de marca

Guarulhos, 17 de abril de 2002

arteEsta seria uma reação dos laboratórios à boa aceitação que os genéricos estão tendo no Brasil. As vendas desta categoria de medicamentos tem crescido, enquato o mercado brasileiro de remédios retraiu no último ano.

Isso significa que os genéricos estão tomando parte da participação dos medicamentos de referência – com marcas fortes, usados como padrão pelo Ministério da Saúde – e dos similares, que têm a mesma fórmula dos de referência, mas não obtiveram certificado de bioequivalência do Ministério.

“Se o consumo não aumenta e as multinacionais perdem parte do mercado, a tendência é que algumas delas tragam suas próprias linhas de genéricos”, explica a farmacêutica Giovanna Dimitrov, consultora da Associação de Redes Independentes de Farmácias e Drogarias (Assifarma).

Não são todos os grandes laboratórios que possuem experiência com genéricos, por isso essa tendência está limitada a algumas empresas. Uma delas, que já começou a vender 13 tipos de genéricos no Brasil, é a americana Novartis, dona de marcas muito conhecidas, como o Cataflam. Outra que deve entrar com fôlego neste segmento é a Merck.

“A tendência é que multinacionais entrem com mais genéricos”, avalia Vera Valente, gerente-geral de medicamentos genéricos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que controla o mercado de remédios. Além de empresas que possuem linhas de referência e genéricos, estão chegando multinacionais especializadas apenas em genéricos.

Esta seria a segunda estratégia adotada pelos grandes laboratórios para tentar barrar os genéricos. No início, para minimizar os danos provocados por esses remédios, a saída foi fazer promoções com os medicamentos de marcas.

Nos últimos meses, os laboratórios têm reduzido preços de medicamentos de referência para não perder mercado. Os produtos e os percentuais das promoções variam com o tempo. Esse fenômeno, porém, pode não ser suficiente para garantir participação no mercado. “Elas devem diminuir com o tempo, porque o mercado não deve crescer e os laboratórios vão optar por uma rentabilidade melhor”, prevê Giovanna, da Assifarma. Com isso, a estratégia dos genéricos deve ganhar força entre empresas com experiência no exterior.

Para Vera Valente, da Anvisa, empresas com medicamentos de referência não estão perdendo com os descontos. Por isso, os preços podem continuar competitivos. “Mas é claro o interesse das multinacionais que investem em pesquisa, para trazerem genéricos”, completa.

Cai venda de remédios, mas genéricos crescem

As empresas internacionais que investem em novas drogas e marcas estão perdendo terreno para o competidor com preços mais baixos. De acordo com a Pró-genéricos, entidade ligada à Associação Nacional da Indústria Farmacêutica (Abifarma), houve um crescimento expressivo na venda desse tipo de remédio, enquanto as vendas, em geral, caíram no ano passado.

Os genéricos representavam 1% do mercado no início de 2001, passando para 9% em dezembro. Houve um crescimento de quase 300% nas vendas deste segmento, em um ano. O mercado de medicamentos, porém, registrou queda de 3,8% no número geral de unidades vendidas, que foi de 1,6 milhão em 2001.

Esse contraste é explicado pela entrada de novos genéricos no mercado e por uma campanha feita pelo Ministério da Saúde para estimular seu consumo.

Desde o segundo semestre do ano passado, todos os genéricos têm uma identificação padroniazda e chamativa.

O ritmo de lançamentos dos medicamentos tem aumentado. Nos últimos dois meses, a lista dos genéricos comercializados aumentou de 304 para 387. A Anvisa já concedeu mais de 500 autorizações para este segmento, que tem uma variedade de remédios capaz de atender a mais de 60% das prescrições médicas.

“Deve acontecer no Brasil o mesmo que nos Estados Unidos, onde o mercado se tornou muito mais competitivo”, afirma a gerente da Anvisa. O aposentado Luciano Rovai sentiu no bolso esta mudança provocada pelos genéricos. “Eu vi que o preço do remédio para o colesterou caiu quase pela metade. Está em promoção e custa quase o mesmo que o genérico”, conta.

A popularização dos genéricos ainda emperra na dificuldade que algumas pessoas têm em encontrá-los. O comerciante Nicolau Mancini Filho diz que não consegue achar o remédio com a dosagem que precisa. “Sei que existe o genérico dele, mas as farmácias nunca têm”, reclama.