Notícias

Turbulência fará PIB crescer menos

Guarulhos, 23 de agosto de 2002

A turbulência que tomou conta dos mercados nos últimos meses vai restringir o crescimento da economia brasileira este ano. O governo, que projetava um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2% neste ano, já admite algo próximo de 1,5%. “Tudo depende da profundidade e da duração da crise”, disse à Agência Estado o secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Roberto Iglesias. “Se chegarmos às eleições em condições normais, haverá crescimento.”

Além de ser pequeno, o crescimento do PIB só acontecerá porque a base de comparação é ruim. A produção industrial caiu 0,07% na comparação entre o primeiro semestre de 2002 com igual período de 2001. “Foi praticamente um empate de zero a zero”, disse Iglesias. Para o segundo semestre do ano, espera-se que haja crescimento porque qualquer desempenho, por mais modesto que seja, parecerá bom se comparado ao final de 2001, quando a economia amargava os efeitos do racionamento de energia elétrica, da crise argentina e dos atentados terroristas aos Estados Unidos.

Impulso exportador será limitado

O secretário Iglesias acha que será possível esperar algum impulso para a economia nesta segunda metade de ano a partir do setor exportador. Assim que for resolvido o problema das linhas de crédito, que se tornaram escassas com a crise, será possível voltar a exportar. No entanto, é difícil prever a dimensão desse efeito. Em primeiro lugar, porque o crédito poderá não retornar nos volumes necessários logo. “Alguns bancos estão esperando a aprovação do acordo com o Brasil pela diretoria do Fundo Monetário Internacional”, comentou o secretário.

Essa formalidade deverá ocorrer somente em setembro. Além disso, para que as exportações cresçam, é necessário que a demanda por produtos brasileiros no mercado internacional aumente, coisa que não ocorreu até agora. A crise também afetou as decisões de novos investimentos. Por um lado, os empresários estão esperando um quadro mais claro sobre a política econômica do novo governo para voltar a investir. Por outro, a turbulência fez subir os juros de longo prazo. Hoje, o juro básico para financiamentos a longo prazo está em 26%, quando no início do ano estava próximo a 18%. Essa taxa é que dita os juros cobrados para o crédito ao consumidor em produtos de valor mais elevado, como automóveis. O efeito do adiamento dos investimentos que deveriam estar ocorrendo agora se fará sentir até 2003.

Iglesias acha que é alta a probabilidade de os empresários deixarem para fazer os investimentos somente no ano que vem, quando o quadro estará mais claro. “Se não investiram até agora, vão deixar para 2003”, avalia.

Lu Aiko Otta