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Tom Cruise estréia em superprodução épica

Guarulhos, 16 de janeiro de 2004

ArteQuem for assistir ao filme O Último Samurai terá a impressão de já ter visto a história antes: Tom Cruise (indicado ao Globo de Ouro) é o capitão Nathan Algren, um ex-combatente da Guerra Civil americana que, atormentado pelo seu sangrento passado, vive seus dias entregue ao álcool. Ganhando a vida como garoto-propaganda de uma fábrica de armas, Algren também carrega um forte sentimento de culpa pela morte de milhares de índios durante a campanha pela conquista do Oeste americano.

O enredo que se constrói a partir da história do capitão Algren se torna previsível logo nos primeiros minutos do filme: o herói precisa encontrar novamente paz de espírito e recuperar sua honra. A oportunidade para Algren mudar de vida surge quando o Coronel Bagley (Tony Goldwin), desafeto dos tempos de exército, convida-o para treinar o primeiro exército convencional japonês, que está sendo organizado pelo Imperador (Shichinosuke Nakamura) para conter uma possível insurreição dos tradicionais guerreiros japoneses, os samurais.

Se o enredo do filme deixa muito a desejar, a parte técnica se sobressai. Dirigido pelo premiado Edward Zwick (produtor de Traffic e Shakespeare Apaixonado, e diretor de Tempo de Glória e Lendas da Paixão), O Último Samurai segue a tradição de épicos como o aclamado Coração Valente, pelo menos no que diz respeito às cenas de ação. E é justamente na primeira batalha entre o Exército Imperial (comandado agora por Algren) e os guerreiros samurais, que o capitão acaba sendo preso pelos inimigos.

O contato de Algren com o estilo de vida dos samurais constitui um divisor de águas na vida do herói. No vilarejo dos guerreiros, ele começa a interagir com o líder Katsumoto (Ken Watanabe, indicado ao Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante), que demonstra desde o início ter uma certa admiração pelo americano. Além de absorver a disciplina e os ensinamentos dos samurais, Algren também estreita suas relações em nível familiar, já que é mantido como hóspede na casa de Taka (a excelente Koyuki), irmã de Katsumoto.

A relação entre Taka e o capitão Algren é tratada com muita sutileza e maestria pelo diretor Edward Zwick. O amor que surge entre os dois, em meio à barreira imposta pela língua e pelos acontecimentos do passado (na batalha em que é preso pelos samurais, Algren acaba tirando a vida do guerreiro que é, justamente, o marido de Taka), é, sem dúvida, um dos pontos altos do filme.

Mesmo com enredo e final previsíveis, O Último Samurai tem o mérito de ser uma superprodução bem acabada. A batalha final entre o equipado Exército Imperial e os samurais que não utilizam armas de fogo sintetiza bem o confronto entre o antigo e o moderno na sociedade japonesa de fins do século XIX, época em que se passa o filme.

A recriação dos cenários de 1870, os figurinos típicos da era Meiji (assinados por Ngila Dickson, a mesma figurinista da trilogia O Senhor dos Anéis) e a trilha sonora de Hans Zimmer (também indicado ao Globo de Ouro) se aliam para transformar O Último Samurai em um drama épico que, pode também, acumular algumas indicações ao Oscar.

Kleber Soares Filho