Notícias

Também no Brasil os altos executivos vão perder bônus

Guarulhos, 09 de fevereiro de 2009

A crise internacional cortou bônus de resultados dos executivos brasileiros bem antes do novo presidente norte-americano Barack Obama limitar a US$ 500 mil ao ano o pagamento dos dirigentes de empresas socorridas pelo governo dos EUA. Por aqui, ao contrário do “castigo” imposto por Obama, é a readequação das metas o fator principal da suspensão das gratificações que chegavam a até 18 vezes os salários mensais da categoria “top” dos executivos. Os salários dessa faixa ficam entre US$ 300 mil a US$ 500 mil anuais pagos aos executivos de companhias nacionais e multinacionais.

A tendência da contenção dos bônus já aparecia em novembro do ano passado quando uma pesquisa da consultoria Tower Perrin mostrou que para 24% de 160 empresas consultadas naquele mês haveria alguma redução no pagamento sobre o resultado de 2008, a ser feito neste ano. A maioria (57%) estimou retração de até 25% no benefício. O mercado estima que, na média, os créditos de bônus do alto escalão deve cair pelo menos 40% neste ano, apesar dos resultados positivos no ano passado. “Depois dos cortes nos bônus, as empresas já estão calculando o que pode ser feito com a participação nos lucros dos colaboradores, levando em consideração o nível de desaceleração da economia e dos negócios. Este momento é muito complexo para muitas empresas, que estão passando por um verdadeiro martírio”, disse Márcia Hasche, sócia-diretora da Valor Pessoal Consultoria em Desenvolvimento Organizacional, de São Paulo.

A pesquisa da Tower Perrin mostra ainda que nos setores da economia mais atingidos pela crise os cortes de benefícios dos executivos serão mais intensos. Na construção civil, que se ressentiu da restrição no crédito imobiliário, a queda será de 40%. No grande varejo, pode chegar a 42%. Na indústria automobilística, que registra retração de vendas desde outubro do ano passado com a falta de crédito, pelo menos 60% das companhias devem reduzir a remuneração variável como prêmio da performance de 2008, mesmo com vendas 14,15% maiores no ano passado ante 2007.

Apesar de o assunto não ser debatido em público, a Toyota anunciou o corte de investimentos em todo o mundo, inclusive no Brasil, além de ter eliminado os bônus dos executivos, que absorviam US$ 11 milhões no total. Circulam também no mercado notícias de que a Companhia de Bebidas das Américas (AmBev) já avisou seus executivos que os bônus, que chegavam a até 18 vezes os vencimentos, não serão distribuídos neste ano. Culpa da crise e da redução da participação da empresa no mercado brasileiro de 1%.

A última vez em que a AmBev cancelou os bônus foi em 2003, também pela queda de participação. Processo doloroso – Ralph Arcanjo Chelotti, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Nacional), o momento é de austeridade e de responsabilidade entre as empresas. “É hora de todo mundo perder um pouco para ninguém tirar vantagens indevidas neste processo doloroso de crise”, afirmou. De acordo com Chelotti, melhor cortar bônus a demitir trabalhadores. As baixas entre os executivos, a exemplo das outras faixas do quadro de funcionários, já estão acontecendo, como no caso da Sadia, que anunciou a demissão de 350 funcionários de gerência e de cargos superiores.