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Táxi é opção para aumentar renda e evitar desemprego

Guarulhos, 03 de maio de 2002

Com a dificuldade de se conseguir emprego, muita gente com diploma universitário tem optado por trabalhar em outras áreas diferentes da sua profissão para sustentar a família. Esse é um fenômeno que tem sido notado especialmente entre os motoristas de táxi.

Estima-se que, hoje, de 5% a 7% dos taxistas do Estado de São Paulo sejam pessoas que cursaram universidade. Como a frota de São Paulo conta com cerca de 30 mil taxistas, isso significa entre 1.500 e 2.100 pessoas com nível superior trabalhando na praça.

O ex-vereador Natalício Bezerra, presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos do Estado de São Paulo, diz que a presença de pessoas com nível superior digirindo táxis aumentou muito especialmente de dez anos para cá.

“A praça está cheia de engenheiros, advogados e PMs”, afirma.

Os motivos que levam pessoas que fizeram faculdade a trabalhar como taxistas são vários. Há desde gente que começou a trabalhar na praça para poder pagar o curso até pessoas que chegaram a exercer sua profissão de formação, mas foram demitidas e não conseguiram mais se inserir no mercado.

O maior problema mesmo, na opinião de Bezerra, porém, é o alto índice de desemprego, que no mês de fevereiro, na Grande São Paulo, atingiu 19,1% da População Economicamente Ativa. “A enorme dificuldade que as pessoas têm enfrentado para arrumar emprego faz com que elas acabem recorrendo ao táxi para poder sustentar a família”, opina Bezerra.

O presidente da cooperativa Use Táxi Comum Rádio confirma a impressão de Bezerra. Segundo ele, dos 200 cooperados da Use Táxi, pelo menos 15% são pessoas que ou têm nível superior ou vieram de outras áreas de trabalho. “A falta de emprego é um dos maiores motivos que faz com que isso ocorra, mas também existe o fato de que o taxista tem uma rentabilidade razoável, além de não ter patrão.” Segundo ele, um taxista que trabalha 26 dias por mês consegue ganhar, em média, R$ 2,5 mil mensais. “Hoje é muito difícil arrumar um emprego que pague isso.”

Para Natalício Bezerra, a idéia de que, trabalhando na praça, é possível manter um nível de rendimento alto em comparação com outros tipos de emprego tem mesmo atraído muita gente, apesar de nem sempre corresponder à realidade. “As pessoas acham que vão ganhar mais e acabam arriscando”, diz ele.

A migração de profissionais diplomados para a praça tem vantagens e desvantagens. Uma vantagem, para Bezerra, é a de que o fato de os taxistas terem nível de escolaridade maior faz com que o atendimento aos clientes também seja melhor. Por outro lado, os táxis acabam caindo nas mãos de gente jovem, que não tem preparo para o trabalho. “A verdade é que é uma pena ver um filho que se sacrificou para pagar uma faculdade ter de trabalhar como taxista porque não tem outra opção.”

AIANA FREITAS