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Salvar a empresa, barrando a carreira dos funcionários espiões

Guarulhos, 16 de dezembro de 2003

A informação é a commoditie das relações interpessoais nas empresas. Se for qualificada, revelar planos e segredos do negócio, pode valer de uma pequena promoção a muito dinheiro em jogo. “Os espiões estão em toda a parte e cada vez mais comprometem as relações de trabalho nas corporações”, diz Antonio de Loureiro Gil, consultor da Manager.

A queda gradativa do rendimento da empresa é o primeiro sinal que aparece quando há uma interferência maior do que as intempéries do mercado. “Roubos e fraudes dependem da conivência de outros, incompetência de uns e ineficiência dos processos”, alerta Gil, que ministra cursos exclusivos de prevenção e identificação do problema. “Costumo abrir as palestras dizendo: nesse momento há alguém roubando você”, diz.

A afirmação merece a atenção dos empresários pois é compartilhada por quem investiga o crime. “As quadrilhas que atuam no roubo e falsificação de mercadorias se alimentam de informações que saem de dentro das empresas”, afirma um consultor que preferiu não se identificar por trabalhar em investigações paralelas à polícia para detectar o desvio de produtos e a trajetória deles até lojas e camelôs.

Investigação – Se existem dúvidas, o conselho dos especialistas é averiguar. E o primeiro passo item são os grampos nos telefones e ramais da empresa. Em seguida, o ambiente de trabalho deve ser submetido à uma varredura completa. “Há equipamentos que se colocados no vidro fechado de uma sala permitem ouvir com clareza tudo o que está sendo dito”, explica Hugo Tisaka, da NSA Brasil que realiza consultoria e treinamento em segurança corporativa.

Pequenas fraudes ou desvios de dinheiro são facilmente detectados, explica Ângela Bekeredjan, detetive particular, por serem praticados por pessoas inexperientes, em geral, departamentos de segurança, financeiro, produção, estoques ou expedição. “Os grandes desfalques são executados quase sempre com a participação de gerentes e assessores. Secretárias também são muito utilizadas. Em níveis mais estratégicos chegamos a infiltrar detetives para trabalharem nas empresas”, explica. No decorrer de seus 40 anos de profissão, ela lembra de alguns casos marcantes. “Fui chamada para averiguar o desvio de produtos em uma indústria de cosméticos e acabei descobrindo um engenheiro químico comissionado pela concorrente para roubar a fórmula de um lançamento”.

Em uma transportadora, foi preciso quase 1 ano para identificar os responsáveis pelo desvio de peças e adulteração de notas fiscais. E em uma fundição de ouro, cujas perdas chegavam a 40kg por mês, ela descobriu que o problema estava na própria direção que a contratou. “Um dos irmãos sócios ficava com a parte”.

As sabotagens, quando não encomendadas, podem ser evitadas, diz ela. “Quem está nos cargos de chefia precisa ter ética e tratar os funcionários com respeito para evitar revoltas. Se o poder sobe à cabeça e as pessoas são maltratadas a ocorrência aumenta”.

Tsuli Narimatsu