Problemas em bulas de remédios, mudanças à vista
Letras minúsculas e linguagem excessivamente técnica não são os únicos problemas das bulas no Brasil. Uma pesquisa, realizada pelas otorrinolaringologistas Aracy Balbani, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e Mônica Menon, da Universidade de São Paulo (USP), mostra outros problemas, entre os quais o fato de bulas de marcas diversas, mas com o mesmo princípio ativo, terem dados diferentes.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) diz que desconhece a pesquisa, mas já sabia dos problemas. Tanto que editou no ano passado a Resolução n.º 140, que determina mudanças nas bulas. A partir de março, elas deverão ser iguais para um mesmo princípio ativo e escritas em letras maiores e linguagem mais simples.
A pesquisa, que teve orientação do otorrinolaringologista Jair Montovani (Unesp), verificou o cumprimento da legislação em bulas de dez descongestionantes, dez anti-histamínicos e cinco vasoconstritores nasais. Por três meses, analisaram as bulas, levando em consideração quatro parâmetros: tamanho e cor das letras, adequação à legislação, emprego de abreviaturas e termos técnicos e teor da informação ao paciente.
Os resultados não foram bons. “Constatamos que 72% das bulas tinham letras minúsculas e 16% na cor azul, o que dificulta a leitura”, diz Montovani. “Além disso, no item “informação técnica', 60% das bulas não traziam informações sobre possíveis alterações de exames laboratoriais causadas pelo uso do medicamento e 52% não mostravam o item obrigatório “pacientes idosos'.”
O uso de abreviaturas (8% das bulas) e termos técnicos (24%) foram outros problemas encontrados. Um exemplo é a abreviatura SNC. “Poucos sabem que ela significa sistema nervoso central”, diz.
Para a indústria farmacêutica, parte da responsabilidade é da extinta Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS), antecessora da Anvisa, que tinha a função de redigir as bulas, o que nunca foi feito.