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Preço do petróleo vai atrapalhar economia mundial

Guarulhos, 03 de abril de 2002

O recente salto dos preços do petróleo não poderia ter ocorrido em pior época para a nascente recuperação econômica mundial. A inflação planetária pôde ser domada em parte graças aos preços relativamente controlados do petróleo, mas a intensificação das tensões no Oriente Médio voltou a transformar os preços do óleo bruto em prováveis vilões do crescimento, ameaçando desmantelar a recuperação mundial encabeçada pelos Estados Unidos.

“Existe obviamente um risco, uma vez que está incidindo muito cedo sobre o que parece ser uma recuperação preliminar”, disse Jim McCormick, estrategista de câmbio da Lehman Brothers de Nova York.

Os preços do petróleo saltaram ontem para novos picos dos últimos seis meses, atingindo seu nível mais elevado desde poucos dias após os atentados de 11 de setembro, em parte devido à notória deterioração das relações palestino-israelenses.

Intensificando a pressão altista estão os apelos do Irã e do Iraque – ambos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) – para que os países muçulmanos ameacem restringir o abastecimento de petróleo para o Ocidente como meio de pressionar Israel, desde que o façam em uníssono.

Embora a maioria dos analistas de petróleo desqualifique como meramente retórica a ameaça de embargo, muitos observam que a sempre presente possibilidade de um ataque dos Estados Unidos ao Iraque simplesmente exacerba os riscos decorrentes do conflito palestino-israelense sobre os preços do petróleo. Juntos, os dois desdobramentos impõem novos riscos à economia mundial. “Afinal, o petróleo ainda é um componente-chave da economia”, disse Shahab Jalinoos, estrategista de câmbio da UBS Warburg de Londres. “Isso intensifica os problemas inflacionários numa época em que as economias mal começam a se recuperar.”

A alta nos preços do petróleo pode causar danos a uma economia de duas formas distintas, seja produzindo um aumento nos custos das empresas, que limita a atividade econômica e o crescimento de empregos ao mesmo tempo em que exerce pressão altista sobre os preços.

Isso cria um dilema para os bancos centrais, que de uma parte precisam manter a inflação sob controle, ao mesmo tempo em que avaliam as perspectivas de crescimento. A elevação das taxas de juros para conter a demanda, em resposta ao que é realmente uma retomada na inflação, motivada pelo lado da oferta, pode simplesmente asfixiar uma recuperação econômica em seus primeiros estágios. Deixar de agir, porém, traz o risco de deixar a inflação fora de controle. No momento, o risco inflacionário está combinado porque as pressões “do lado da demanda” já chegam aos preços, uma vez que há uma recuperação nos gastos nos EUA.

Vários economistas relutam em quantificar o efeito dos preços mais elevados para o petróleo sobre o PIB, mas a maior parte acredita que os EUA, em parte devido à flexibilidade e vitalidade de seus mercados, está de certa forma sob menor risco que a zona do euro ou o Japão. Mas uma súbita alta nos da gasolina, também atrapalha os gastos com consumo, que têm sido um dos motivadores da recuperação nos EUA.