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Para economistas, juros podem cair já

Guarulhos, 08 de abril de 2002

Os fundamentos da economia brasileira hoje são bons. Por isso, o Banco Central (BC) deveria baixar os juros e rápido, apesar do aumento dos combustíveis de 10,08% nas refinarias. É o que pensam quatro renomados economistas paulistas ouvidos pelo Diário do Comércio na semana passada. “A inflação em 2002 deverá ficar entre 5% e 7% se as coisas continuarem como estão. E o fato de ela chegar a 7% não é relevante”, diz o economista e professor de matemática financeira, José Dutra Vieira Sobrinho. O Produto Interno Brutodeverá crescer mais que 3%. A cotação da moeda norte-americana está equilibrada em R$ 2,40. “O valor da moeda norte-americano no Brasil nos últimos 15 anos sempre acompanhou a inflação interna, portanto, hoje, a cotação ideal seria R$ 2,17 considerando a variação do custo de vida medida pelo INPC do IBGE e de R$ 2,37 levando em conta a alta do IGP-M da Fundação Getúlio Vargas” , explica Dutra Vieira.

Dívida – Segundo o professor de matemática financeira, a única coisa que preocupa no momento é a dívida interna, da ordem de R$ 630 bilhões. “Mas para a sociedade isso é irrelevante, já que o povo se preocupa mais com a dívida externa que é menos da metade desse valor”, diz. Diante desses números, o professor não entende os motivos pelos quais o governo não reduz os juros. Em sua opinião, os juros reais brasileiros na casa dos 12,86% ao ano (taxa Selic menos inflação de 5%) são um dos mais altos do mundo. “A taxa real nos países do Primeiro Mundo não passa de 2%”, diz. Para Dutra Vieira, a situação da economia brasileira hoje é bastante semelhante à de dezembro de 2000, quando a Selic era 15,75% ao ano. “Por que não baixar a taxa básica de juros a 16% ao ano?”, questiona. E tem mais. Juros básicos na casa dos 18,5% ao ano (1,42% ao mês) só servem para uma coisa: aumentar o peso da dívida interna. Com essa taxa, a dívida interna cresce ao mês R$ 8,9 bilhões, aumentando ao ano o equivalente a R$ 107 bilhões. “Se os juros básicos fossem 16% (1,25% ao mês) haveria um ganho anual de R$ 13,4 bilhões de reais, que seria o montante que a dívida interna deixaria de crescer anualmente”, explica José Dutra Vieira Sobrinho. Por que o governo não faz isso? Para não comprometer as metas de inflação. Mas, isso acaba afetando a dívida interna. ” O governo brasileiro precisa olhar para seus próprios problemas e cuidar mais dos seus interesses”, diz Dutra Vieira. Segundo ele, se os problemas da economia da Argentina fossem interno não tinham causado tanto estrago no Brasil, como os provocados pela crise argentina em 2001.

Rapidez – Será que o BC deveria continuar com a atual política de juros? “Não”, responde o economista e vice-presidente de Finanças da Nossa Caixa, Joaquim Elói Cirne de Toledo. “Os juros brasileiros já são excessivos. O governo deveria reduzi-los e rapidamente”, diz Toledo. Segundo ele, uma taxa de 6%, dois pontos percentuais acima dos juros norte-americanos seriam suficientes. No entender do executivo da Nossa Caixa, a política dos juros do BC é equivocada e pode funcionar ao contrário do planejado. E explica: “se você acelera um carro no atoleiro ou no areião você pode acabar atolado”. É o que vem acontecendo no Brasil. Taxas de juros elevadas tem um efeito nocivo, aumentando a dívida interna e, em conseqüência, o risco Brasil. “As pessoas pensam, então é melhor comprar dólar”, diz Toledo. Isso mexe com as taxas de câmbio e, também, com a inflação. Assim, o aumento de juros provoca mais inflação, porque afeta o câmbio. Na análise de Toledo, essa política equivocada de juros teima em perdurar no País desde 1986. No momento atual, o economista acredita que o BC vai continuar reduzindo as taxas, mas de maneira módica. “O BC não vai subir os juros”, afirma. “Os mercados financeiros estão menos otimistas, mas mantêm certa dose de otimismo”, destaca.

Queda a médio prazo – O presidente Sociedade Brasileira de Estudos das Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica, Sobeet, Antônio Corrêa de Lacerda, concorda que nossos juros já são excessivamente altos. Em seu entender, seria prematuro aumentar os juros. “Além disso, traria conseqüências danosas para as contas públicas e para o nível de atividade”, diz. “Um agravamento do conflito no Oriente Médio, com disparada no preço do petróleo, vai dificultar uma redução das taxas de juros, mas não inviabiliza novas baixas a médio prazo”, explica Corrêa de Lacerda. Ele lembra, ainda, que o aumento do preço do barril é circunstancial e que a Rússia hoje também é um grande produtor mundial de petróleo, podendo contribuir para minimizar a situação numa possível crise.

Sem pressão – Emílio Alfieri, economista da ACSP, acredita que a alta dos preços dos combustíveis de sábado ainda não será suficiente para impactar de forma forte a inflação. “A redução de 25% no preço dos combustíveis efetivada no início do ano, mesmo diante dos últimos três aumentos, ainda permite uma folga de 7,7%”, explica. “Além disso, o Brasil não depende do petróleo importado como na década de 70. Hoje 80% do petróleo consumido no Brasil é produzido internamente, o inverso da situação vigente na primeira crise do petróleo”, diz Alfieri. Assim, o impacto da alta na balanço de pagamentos não pode ser considerado dramático. “Hoje as importações de petróleo significam apenas US$ 5 bilhões, não representando mais que 10% de nossas compras externas”, diz Emílio Alfieri.

Teresinha Matos