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Metalúrgicos da Volks suspendem greve em S. Bernardo.

Guarulhos, 19 de novembro de 2001

Os 16 mil funcionários da Volkswagen em São Bernardo do Campo (ABC paulista) decidiram em assembléia na manhã desta segunda-feira suspender até quarta-feira a greve iniciada uma semana atrás, depois que a montadora alemã voltou atrás nas 3.000 demissões que havia anunciado, informa Patrícia Nakamura, do UOL News.
Em uma nova assembléia, marcada para a próxima quarta-feira, às 15h, os metalúrgicos avaliarão as propostas apresentadas pela matriz da empresa ao sindicato.
Nesta manhã, os trabalhadores do turno das 5h entraram normalmente na fábrica. Metalúrgicos que receberam carta de demissão no último dia 9 também foram trabalhar.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, viajou à Alemanha e conseguiu negociar uma proposta com a matriz da empresa para evitar os 3.000 cortes, depois de negociações em vão com a direção da empresa no Brasil.
No sábado, Marinho voltou ao Brasil afirmando que tinha recebido da empresa “uma proposta com chances de virar um acordo”.
“Houve mudanças significativas”, disse Marinho a jornalistas ao desembarcar no aeroporto em São Paulo. “Aquela proposta rejeitada era da Volkswagen e eles não aceitavam nenhuma ponderação do sindicato. Nesta nova proposta tem várias novas ponderações colocadas pelo sindicato que serão absorvidas pela empresa.”
Se as propostas forem aceitas pelos trabalhadores, eles devem sofrer uma redução de 15% nos salários e na jornada de trabalho para que a VW faça frente à queda nas vendas, provocada pela desaceleração econômica.
A proposta prevê a recomposição salarial dessa perda de 15% nos salários. Haveria um reajuste de 5,44%, mais abono salarial de 2,72%, e também uma parte do programa de Participação nos Lucros e Resultados vai para reposição salarial.
A redução salarial já havia sido proposta pela Volks, proposta inicialmente rejeitada pelo sindicato, o que levou à greve.
Marinho disse que conseguiu convencer a empresa a desistir da idéia de demitir 0,5% da força de trabalho da fábrica em São Bernardo por mês a fim de substituí-los por novos funcionários que teriam salário 30% menor.
A VW emprega 26.800 pessoas no Brasil e é líder de mercado, com participação de 27%.
A paralisação, uma das maiores greves nos últimos anos, foi pacífica. Para cada dia de greve, a VW deixou de produzir até 900 carros.

Acordo de cinco anos

O acordo será válido por cinco anos e tem por objetivo garantir que a fábrica de São Bernardo continue no topo da lista de unidades produtivas da VW.
O salário médio na planta é de R$ 1.600, valor cerca de 30% maior do que a média salarial de trabalhadores do setor automotivo em outras regiões do país, mas é bem inferior aos R$ 5.000 recebidos em média pelo trabalhadores da montadora na Alemanha.
A empresa propôs também uma nova estrutura salarial para novos funcionários, com a redução do salário inicial de R$ 995 para R$ 748.
A primeira proposta feita pela empresa previa a terceirização de 1.800 trabalhadores, a redução do salário inicial e o aumento para o salário final de R$ 1.393 depois de 78 meses de trabalho.
Dos 3.000 funcionários demitidos, 1.500 serão readmitidos imediatamente, enquanto os outros 1.500 receberão licença remunerada até o dia 31 de janeiro.
Até 31 de janeiro, o sindicato e a administração da empresa vão trabalhar em um programa de demissão voluntária com o objetivo de obter a adesão de 700 funcionários. Se esse objetivo não for alcançado, a empresa deverá demitir 700 pessoas.

“O futuro será decidido pelos investimentos considerados no acordo”, disse Marinho.

Nova linha de produção

O plano de investimentos deve incluir a introdução de uma linha de produção do novo modelo Polo para exportação e a participação em um novo modelo em desenvolvimento, o Tupi, que pode substituir o Gol, o compacto líder de vendas no país na última década. O investimento deverá ser de R$ 500 milhões.
Marinho viajou para a Alemanha na quarta-feira depois que as conversações com o presidente da VW Brasil, Herbert Demel, chegaram a um impasse.
Esta não foi a primeira vez que o líder do maior sindicato de metalúrgicos do país foi ao exterior para tentar salvar empregos no ABC, berço da indústria automotiva e do sindicalismo no Brasil.
Neste ano, Marinho fechou acordos com a Ford Motor e com a Whirlpool Corporation para reverter cortes de empregos ou adiar o fechamento de fábricas.