Manual para os endividados
Certamente, uma das maiores dificuldades de quem está endividado é superar o baixo astral. O malabarismo de cada dia para superar as dificuldades reflete-se fortemente à noite. Na hora do banho, na frente do espelho, vêm as dúvidas: “O que é que eu faço?”, “Será que estou no caminho certo?”, “Não sei até quando vou agüentar!”…
Vem então, talvez, o momento mais sofrido: a hora de dormir – ou melhor, de tentar dormir. Neste momento, com a auto-estima abalada, bate o desânimo – e a vontade de que o sono venha logo. Misturam-se as lembranças dos problemas do dia seguinte: “Meu Deus, amanhã tenho que cobrir o cheque do supermercado, o da financeira e o da loja”.
Quando o dia amanhece, levantar para trabalhar parece um fardo pesado. A pior fase é quando os cobradores telefonam o dia todo, assim como o gerente do banco, as empresas de cartões de crédito e os agiotas… É um inferno: o devedor fica encurralado. Na hora de comprar, todo mundo é bem tratado; mas, na hora de ser cobrado, vêm truculências e constrangimento, na maioria das situações.
E o nome sujo no SPC e na Serasa? O que tem de gente fazendo dívida para pagar dívida, evitando que seu nome seja incluído nessas listas negras… Acontece que este processo vai piorando cada vez mais, e o devedor pessoa passa a viver em função dos juros absurdos praticados pelo sistema financeiro no Brasil.
Este é um grande drama: as pessoas utilizam o crédito até se esgotar, até o limite, para manter seu nome limpo e não perder talão de cheques e cartão de crédito. A bola de neve leva a maioria ao endividamento total e, a partir deste momento, ganha-se o rótulo de CALOTEIRO. É um preço duro cobrado por essa realidade perversa, que deixa a auto-estima do devedor lá embaixo, enquanto seus débitos estão lá em cima.
Por isso, siga estas 15 dicas para planejar melhor o seu orçamento:
1 – O processo de endividamento começa quando você passa a recorrer a empréstimos para honrar seus compromissos. Enquanto a pessoa tem crédito, cria dívidas para pagar dívidas. PARE enquanto há tempo, porque você simplesmente está piorando cada vez mais a sua situação.
2 – Se estiver pagando apenas o valor mínimo do cartão de crédito por meses e meses, você está praticamente jogando dinheiro fora. Seu débito nunca diminui e este dinheiro representa os juros das administradoras. O correto é abrir mão do cartão, suspender o pagamento do valor mínimo e negociar o pagamento do total em prestações fixas para liquidar o débito.
3 – No início, as administradoras dificultam bastante, falam que você tem de continuar a pagar pelo menos o valor mínimo etc. Entretanto, a partir do segundo mês sem receber, essas empresas acabam propondo o parcelamento do valor total.
4 – Quando negociar qualquer dívida, nunca aceite a primeira proposta apresentada. Procure sempre barganhar. Se o cobrador propuser dividir o débito em seis vezes, por exemplo, peça para aumentar para 20 vezes. Claro que, de imediato, ele também não vai aceitar, mas pode-se fazer um acordo em 12 ou 15 meses.
5 – Não se deixe intimidar por agiotas. Eles gostam de agir desta forma, mas agiotagem é crime. Se você registrar uma queixa policial, certamente o quadro ficará a seu favor. Os agiotas são metidos a valentes, mas são inteligentes. Eles sabem que estão praticando uma ilegalidade.
6 – Faça uma reavaliação de seu orçamento. Procure dar total prioridade às despesas de subsistência de sua família. Pague primeiro condomínio, escola, aluguel ou prestação do imóvel, telefone, energia etc. Sem o mínimo de condição para sustentar sua família, você não vai poder resolver o problema de mais ninguém.
7 – Verifique quanto você ganha por mês e o total dos seus débitos. Separe o valor para manter sua subsistência – o que sobrar é para pagar dívidas.
8 – Procure resolver primeiro os débitos que envolvam nomes de terceiros. As compras que você fez com fiadores ou em nome de alguém merecem prioridade, para limpar o nome da pessoa e recuperar a confiança que você recebeu.
9 – As contas de valores pequenos podem também ser eliminadas com prioridade.
10 – Modifique seus hábitos de consumo e de sua família. Caso contrário, voltará a cometer os mesmos erros. Em época de crise, economizar é a palavra de ordem. Consumo de telefone, energia e despesas supérfluas têm de ser eliminados. Lembre-se que um pequeno vazamento pode afundar um grande navio.
11 – Você sempre pode recorrer aos Juizados de Defesa do Consumidor de sua cidade para ajudá-lo a negociar seus débitos. Muita gente pensa que, por estar devendo, não tem o direito de fazer uma queixa contra seu credor. Mas tem sim: os motivos das queixas são os juros absurdos, as dificuldades para renegociar o valor da prestação, as pressões abusivas e inconvenientes etc.
12 – Caso não haja Juizado de Defesa do Consumidor ou Procon em sua cidade, a queixa pode ser registrada na localidade mais próxima ou na capital do estado.
13 – Ao fazer a queixa, leve os dados corretos. Nome completo e endereço da empresa credora, como surgiu o problema, qual o valor envolvido, quantos meses, quanto já pagou – enfim, procure apresentar o máximo de informações para facilitar no momento de registro da queixa.
14 – Tenha um exemplar do Código de Defesa do Consumidor, que se pode adquirir em qualquer livraria. Leia os artigos sobre dívidas para que, na audiência de conciliação, você tenha firmeza em sua defesa. Ter conhecimentos dá mais autoridade.
15 – O maior responsável pelo endividamento é a difícil situação econômica do país, com juros impagáveis e tudo o mais. Todavia, é bom lembrar que você também cometeu erros, deixou-se levar pelas facilidades de comprar a crédito, nunca fez orçamento para comparar seus gastos e despesas e, agora, precisa refletir para corrigir as falhas.
Todos têm o direito e a obrigação de pagar seus débitos. No entanto, também têm o direito de se restabelecer, a curto, médio ou longo prazo, com dignidade para voltar a ser um consumidor consciente.
Emanuel Gonçalves da Silva