Lojistas do Brás deixam de faturar R$ 9 bi no semestre
A falta de inverno provocou duas catástrofes sobre o comércio paulista, afetando principalmente as vendas de vestuário e do segmento de cama, mesa e banho: a quebra de faturamento, calculada em cerca de R$ 9 bilhões, e a antecipação das liquidações que só deveriam começar no próximo mês.
O maior índice de perdas foi registrado no comércio do Brás, onde, no primeiro semestre, as vendas caíram 50% em relação ao mesmo período de 2001. Lá, estima-se que os três mil lojistas da região deixaram de faturar R$ 9 bilhões, no período.
Já no Bom Retiro a retração foi menor. Os 1,5 mil comerciantes venderam 30% a menos, deixando de faturar R$ 54 milhões. “As 50 mil pessoas que normalmente vão ao bairro durante o mês simplesmente desapareceram”, diz Shlomo Schoel, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas do Bom Retiro.
“O movimento de compradores diminuiu uns 70%, aproximadamente”.
Com a crise afugentando o consumidor, nem as liquidações conseguiram resgatar o dinheiro empatado na coleção outono-inverno. Walter Zuccolin, presidente da Associação dos Comerciantes do Brás, acredita que pelo menos metade das lojas da região já iniciaram as liquidações de inverno.
“Vivemos uma situação maluca, não vendemos a coleção outono-inverno e muitos lojistas estão colocando nas vitrines a moda para o verão, numa tentativa de, ao atrair o público para o interior das lojas, conseguir vender as peças de inverno”.
A queda das vendas não se restringe apenas aos grandes polos de comércio da cidade. No Itaim, conhecido pela concentração de lojas de roupas masculinas e femininas, Satiko Nakata Mascaro, proprietária da loja que tem seu nome, diz que vendeu 450% a menos no primeiro semestre deste ano. Como ela faz os figurinos da loja, não teve tempo de aprontar a nova coleção, mantendo peças mais leves no mostruário.
Shlomo Schoel, representante dos lojistas do Bom Retiro, comenta que – ao contrário do que possa parecer – o movimento gerado pelo Dia das Mães e pela Copa do Mundo não foi suficiente para cobrir o “rombo” causado pelo encalhe da coleção de inverno. Da mesma opinião é o presidente do Sindicato do Comércio Lojista de São Paulo, Ruy Nazarian. “Apenas o frio consegue desovar as mercadorias mais pesadas. O lojista está sendo forçado a fazer liquidações, sem conseguir dimensionar o seu retorno, porque está sufocado com as promissórias acumuladas no semestre”, afirma Nazarian.
João Paulo Lara de Siqueira , coordenador do Programa de Administração do Varejo – Provar – acha que o lojista não tem outra opção a não ser liquidar. “Ele não pode ficar com o estoque encalhado”, lembra Siqueira.
Mas não é só o comércio de vestuário que sofre com a falta de inverno. Também o segmento de cama, mesa e banho amarga prejuízos em razão do encalhe de cobertores e edredoms. Segundo Domenico Franco, comerciante da rua Maria Marcolina, no Brás, e dono da Nino Shop, sua perda ultrapassou a média do bairro, chegando a 70%: “minha loja é de material de cama, mesa e banho. Esperava vender o meu estoque de edredoms e cobertores neste inverno. Estou com quase todas as peças na loja”.
O presidente do Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos, Vestuários e Armarinhos do Estado de São Paulo, Arinos de Almeida, proprietário da loja de Comércio de Tecidos Moraes Machado, confirma a queda nas vendas e acrescenta que mesmo os associados conseguiram, neste ano, colocar seus produtos nas entidades assistenciais. “São pelo menos 200 cobertores que os comerciantes deixaram de vender com este objetivo”.