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Investimento deve voltar a focar indústria

Guarulhos, 05 de fevereiro de 2003

A indústria brasileira deve continuar absorvendo boa parte dos investimentos estrangeiros diretos que ingressarão no País em 2003. Depois de responder por 65% de todo o fluxo de investimentos no Brasil em 1996, o setor perdeu terreno para o segmento de serviços, que absorveu volumes importantes de investimentos nos últimos anos, em decorrência das privatizações promovidas pelo governo Fernando Henrique Cardoso. “A tendência natural agora, com o fim das privatizações, é a indústria voltar a receber esses investimentos”, avalia o chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central, Altamir Lopes.

Essa mudança no direcionamento dos investimentos no País já pode ser percebida nos dados apurados pelo Banco Central nos últimos dois anos. De 2001 para 2002, a indústria já registrou um aumento em sua participação na captação de recursos externos. Em 2001, o setor respondeu por 33,3% dos investimentos estrangeiros diretos que ingressaram no País. Em 2002, essa participação saltou para 40,6%. Em contrapartida, os investimentos feitos no setor de serviços caíram de 59,6% para 56% nesse período.

Na avaliação de Lopes, a intensificação do trabalho de substituição de importações, ocorrida nos últimos anos, favorece o retorno de investimentos para o setor industrial. A expectativa do Banco Central é de que esse processo de substituição continue. “Essa substituição vai ser muito sentida em segmentos como os de alimentos e bebidas, de material eletrônico e equipamentos de comunicação, como é o caso da indústria de telefonia celular”, observou.

Mesmo considerando que o segmento de telefonia celular no País já atendeu boa parte da demanda, existe uma tendência de substituição dos aparelhos antigos por outros com tecnologia mais avançada. “Esse é um setor que não pára de crescer”, observa o chefe do Depec. A busca por novos mercados para os produtos brasileiros também contribui para o aumento dos investimentos no setor industrial, avalia Lopes.

“O processo de substituição de importações abre um canal para um maior volume de exportações brasileiras, o que se reflete nas decisões de investimentos da indústria”, afirma o chefe do Depec. Novamente, o setor de telefonia celular pode contribuir, na avaliação de Lopes, para transformar o Brasil numa plataforma de produção e exportação desse tipo de produto para outros países da América Latina.

Alguns segmentos do setor de serviços, entretanto, ainda continuarão a absorver um bom volume de investimentos estrangeiros diretos, apesar do declínio natural observado por Lopes, para o setor como um todo. “Os serviços na área de telecomunicações e financeira ainda têm um grande potencial de absorção de investimentos”, exemplifica Lopes.

Segundo ele, não há como o Banco Central fazer qualquer estimativa sobre quanto o setor industrial deverá absorver em investimentos, este ano. Mas Lopes garante que, no médio e longo prazos, o setor tem todas as condições de voltar a absorver os 65% do fluxo de investimentos para o País registrados em 1996. “Havia uma grande carência de investimentos no setor de serviços que já foi atendida. Com essa pavimentação, é natural esperar que a indústria volte a responder por boa parte dos investimentos que ingressam no País. Mas essa mudança não ocorrerá, de maneira forte, no curto prazo”, ressalta Lopes.

A projeção do Banco Central para ingresso de investimentos estrangeiros diretos no Brasil este ano é de um total de US$ 16 bilhões. “Os investimentos estão fluindo normalmente e, pelas intenções apresentadas pelas empresas, temos segurança com relação ao ingresso dos US$ 16 bilhões que projetamos para este ano”, disse Lopes.

Renato Andrade