Inadimplência reduz lucro dos bancos
Os bancos não estão conseguindo repetir o desempenho de 2001, quando registraram lucros recordes no setor. Segundo levantamento da consultoria Austin Asis, com os primeiros balanços divulgados no ano, até 31 de março, o lucro líquido das instituições financeiras caiu 11,7%, de R$ 1,06 bilhão para R$ 933 milhões. Conseqüentemente, a rentabilidade sobre o patrimônio líquido, que mede o retorno que o banco teve em relação aos investimentos, recuou de 17,35% para 15,3%. Um dos principais fatores que levaram a esse resultado, segundo a Austin, é o aumento do risco embutido em suas carteiras de crédito, provocado pela tímida evolução da economia.
Segundo o presidente da consultoria, Erivelto Rodrigues, a piora na qualidade das carteiras exigiu que as instituições destinassem um volume maior à conta de provisões para devedores de liquidação duvidosa. No caso do Itaú, o volume cresceu 31%, de R$ 2,04 bilhões para R$ 2,67 bilhões. O saldo de provisão do Bradesco totalizou R$ 3,4 bilhões, crescimento de 34,2% em relação ao primeiro trimestre de 2001. “Com a curva de inadimplência ascendente, os bancos não têm outra saída”, explica Rodrigues.
Segundo os números do estudo, o volume de crédito em atraso cresceu 67,4%, com destaque para Bradesco, Itaú e Banco BBS. Para Rodrigues, essa deverá ser a tendência neste ano, influenciando os lucros dos bancos. Entre as empresas incluídas no levantamento, só Sul América e BVA tiveram redução no volume de crédito em atraso.
Influência da taxa de juros e do dólar
“A deterioração na qualidade das carteiras de crédito”, explica Rodrigues, “está no modesto avanço da atividade econômica brasileira, que dificulta a expansão dos empréstimos”. A mesma opinião tem o vice-presidente e diretor de relações com investidores do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, que na apresentação do balanço da instituição disse que “os números se mostraram bastante coerentes com o desempenho da economia nacional”. A demanda mais discreta fez com que a carteira de crédito do banco evoluísse apenas 0,34%.
Em 2001, afirma Rodrigues, embora o crescimento econômico tenha ficado abaixo das expectativas, houve expansão nos empréstimos. Isso porque o crédito estava reprimido há anos. Segundo ele, a relação crédito/Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil é de 27%, enquanto em países como México e EUA é, respectivamente, de 70% e 80%.
Mas os resultados dos bancos não foram impactados só pelas operações de crédito. A queda na taxa de juros e a estabilidade do dólar, diz Rodrigues, contribuíram para a redução dos lucros, pois diminuíram ganhos com tesouraria. O resultado do Itaú, por exemplo, foi muito influenciado pela variação do dólar sobre os investimentos permanentes em subsidiárias que o banco mantém no exterior.