Governo estimula uso do gás para carros
A expectativa de expansão do uso de gás natural nos carros e os recentes incentivos fiscais do governo estimulam novos investimentos na área, como é o caso da White Martins . A subsidiária da norte-americana Praxair vai construir uma fábrica na Zona Franca de Manaus para produzir kits de conversão, ramo em que ainda não está presente.
Hoje, 90% dos kits são importados da Itália, Argentina e Áustria. Para entrar nesse promissor mercado – as estimativas do governo são de que até 2005 um milhão de veículos rodem movidos a gás -, a White Martins, que já produz cilindros para o gás natural veicular (GNV), selou uma joint venture com a italiana BRC, uma das principais exportadoras desses kits para o Brasil. A fábrica, que receberá investimentos da ordem de US$ 25 milhões, deve começar a operar em dezembro próximo com capacidade de produção de 10 mil kits por mês.
Murilo Melo, vice-presidente de desenvolvimento de negócios da White Martins, diz que os estudos apontam para uma grande expansão neste mercado: entre 200 a 250 mil veículos por ano serão convertidos para gás num futuro próximo.
Espera-se que o projeto da empresa seja aprovado no próximo dia 13 pelo Conselho da Superintendência da Zona Franca de Manaus, segundo João Carneiro de Almeida, assessor especial da secretaria executiva do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O incentivo do governo federal foi publicado no Diário Oficial da União há cerca de dez dias. A portaria reduz a zero as alíquotas dos impostos de importação e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre os equipamentos para conversão dos motores à gasolina, álcool e óleo diesel para o gás natural desde que produzidos na Zona Franca de Manaus.
Com a substituição das importações, o kit de conversão, que hoje custa cerca de R$ 3 mil, poderá ficar entre 20% e 30% mais barato. Ainda segundo o MDIC, dos 600 milhões de carros que circulam no planeta, só um milhão foi convertido para gás. Desses, 55% estão na Argentina, 28% na Itália e 27% nos demais países, incluindo o Brasil.
Outro novo investimento na área é o da Faber-Papaiz, uma joint-venture entre a italiana Faber, uma das maiores fábricas de cilindros para gás no mundo, e a brasileira Papaiz, especializada em fechaduras, cadeados e dobradiças. A Faber-Papaiz está investindo US$ 12 milhões na nova fábrica de cilindros em Diadema, região do ABC paulista, que deverá ficar pronta nos próximos 18 meses. “Pretendemos produzir entre 10 mil e 12 mil cilindros mensais”, diz Oswaldo Colombo Filho, diretor de planejamento e controle do grupo Papaiz. A expectativa é que parte da produção seja exportada para Argentina e Venezuela. Enquanto a fábrica não fica pronta, os cilindros são importados da Faber italiana. A matéria-prima é brasileira – aços especiais comprados da Acesita -, informa Colombo, do grupo Papaiz. “O primeiro lote chega neste mês”, diz. “Importaremos de mil a mil e quinhentos cilindros mensais.”
Instalada na cidade de São Paulo, a Rodagás do Brasil, que já fabrica equipamentos de kit de conversão para motores veiculares e estacionários, também tem investido pesado nos últimos dois anos. Desde 2001, está aplicando mais de US$ 2 milhões em uma nova fábrica, o que inclui a modernização de suas linhas de montagem, e em novos produtos, informa Angela Pighini, diretora comercial da Rodagás. Com 30 anos de mercado, a fábrica está em sua quinta geração de equipamentos para conversão a gás. Tem capacidade instalada de 8 mil kits mensais para motores veiculares, mas utiliza só 30%. Do total produzido, 10% destina-se aos mercados da Colômbia, Estados Unidos e Trinidad Tobago, e em breve, deverá chegar ao Chile, Uruguai e Bolívia. “Estamos em processo de homologação nesses mercados”, diz Angela.
Na trilha dessa expansão, as distribuidoras começam a se movimentar para aumentar o número de postos que oferecem gás. A Shell está investindo neste primeiro semestre R$ 9 milhões para adaptar nove postos tradicionais para fornecer GNV. Com isso, aumenta para 21 o número de postos que abastecem veículos a gás. “Acreditamos em um mercado em franca expansão pelos preços altamente competitivos “, diz Daniel Meniuk, gerente de marketing da Shell. Até o fim do ano, a empresa quer ter mais 20 postos de GNV.
A Petrobras Distribuidora (BR), líder de mercado com vendas de 1 milhão de metros cúbicos de gás veicular por dia, também tem planos de mais que dobrar o número de postos. “O mercado é extremamente comprador. Só que para expandir precisamos de um aumento da rede de gasodutos. Só no Rio, nossa expectativa é de adaptar entre 20 a 30 novos postos”, diz Clenardo Fonseca, gerente de gás veicular da BR. Hoje a empresa tem 135 postos que fornecem gás.
A Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga (CBPI)- grupo que faturou US$ 4,8 bilhões em 2001 – está investindo R$ 60 milhões na ampliação de sua rede de postos de GNV. Até o fim do ano pretende ter mais 100, ampliando para 143 o número desses postos espalhados pelo País e abocanhando 30% desse mercado. Francisco Barros Júnior, gerente do Departamento de Desenvolvimento Automotivo da Ipiranga, diz que a empresa briga pela liderança.
Estudos indicam que, daqui a cinco anos, serão necessários mil postos para atender a frota de veículos movida a GNV.
No Estado de São Paulo, a Comgás pretende instalar equipamentos em 530 postos de combustível a gás até 2010. Cada posto demanda, apenas em infra-estrutura para receber o gás natural, cerca de R$ 200 mil. Atualmente, a distribuidora atende 91 postos e deverá encerrar o ano abastecendo 145 unidades em 15 municípios. A área de concessão da Comgás tem 177 municípios paulistas, segundo Ricardo Barbosa, diretor de marketing residencial, comercial e veicular.
“Há cinco anos, nenhum nicho da cadeia tinha idéia de que haveria um “boom” no setor. De 1999 para cá, observamos um crescimento anual de quase 100% no consumo de GNV na Comgás”, diz o executivo. De acordo com ele, em 1999 o consumo anual de GNV era de 34 milhões de metros cúbicos. Em 2001, o volume de gás natural entregue aos postos pela Comgás chegou a 112 milhões de metros cúbicos. Para 2002, a empresa espera demanda de 250 milhões de metros cúbicos de GNV e, em 2010, 1 bilhão de metros cúbicos.
“A entrada das montadoras no jogo será determinante para consolidar o GNV. Vai alavancar o consumo se os carros saírem das fábricas com motor adaptado para gás”, diz Barbosa.