Emprego cresce pouco nas empresas mais lucrativas
O emprego não cresceu na mesma proporção dos lucros e do faturamento neste ano. Levantamento feito pelo Valor com um grupo de elite de empresas brasileiras mostra que, de janeiro a setembro, enquanto o faturamento dessas companhias cresceu 41,5% e os lucros da operação, 73,2%, o número de empregos diretos aumentou 4,7%.
O levantamento se baseou no balanço de 15 empresas industriais e do setor de serviços que tiveram os maiores lucros líquidos neste ano. De janeiro a setembro, esse grupo registrou lucro de R$ 45,8 bilhões. Em 2002, as mesmas empresas, cujo lucro somava R$ 26,4 bilhões, tinham 167 mil funcionários. Este ano, no fim de setembro, empregavam diretamente 175 mil pessoas, aí incluídas 7 mil vagas de empresas absorvidas por três dessas companhias: Petrobras, Vale e Aracruz. Sem contar essas absorções, o emprego evoluiu apenas 0,4% até setembro.
“O efeito do preço foi o principal fator gerador de lucros nas empresas”, avalia o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida. Empresas ganharam com a alta de produtos ligados à exportação, como aço, celulose e produtos minerais, e com os reajustes das tarifas públicas.
A retomada da economia deve gerar empregos em 2004, mas economistas avaliam ser difícil prever quanto. “A indústria brasileira repetirá um problema que ocorre nos Estados Unidos”, diz o pesquisador do Instituto de Economia da UFRJ, Paulo Gonzaga de Carvalho. Segundo ele, a recuperação americana não cria na indústria os empregos destruídos no período de retração, seguindo um efeito conhecido como “jobless recovery”. “O emprego é a última variável a reagir ao crescimento”, diz José Márcio Camargo, professor da PUC. Para ele, apenas um salto nos investimentos criará os empregos necessários.
André Vieira