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Em Guarulhos, prefeitura é invadida

Guarulhos, 01 de agosto de 2001

Computadores, portas e vidros destruídos. Um prejuízo avaliado em R$ 100 mil. Esse foi o resultado da invasão de cerca de 150 perueiros que depredaram a sede da Prefeitura de Guarulhos na noite de anteontem. Munidos de paus e pedras, eles invadiram salas da prefeitura, inclusive o salão nobre do prefeito Elói Pietá, do PT, para protestar contra a violência dos fiscais. O sindicato da categoria também reivindica a legalização de 698 peruas. Atualmente, só 401 têm licença para trabalhar.

Pietá reuniu-se ontem com o secretário estadual de Segurança Pública, Marco Vinício Petrelluzzi. Segundo a assessoria de comunicação da prefeitura de Guarulhos, o secretário garantiu a cooperação da Polícia Militar nas ações de fiscalização contra os perueiros clandestinos na cidade.

Outra manifestação de perueiros em Guarulhos está prevista para hoje. Os transportadores em situação irregular prometem fechar as principais ligações entre o município e a Via Dutra, às 8h.

Os perueiros alegam que os fiscais estão atuando com extrema violência.

Segundo eles, na tarde de segunda-feira, um lotação foi interceptado por um fiscal sem identificação em um viaduto, e o cobrador Rodrigo Santos de Oliveira, de 17 anos, teria sido jogado viaduto abaixo. Ele está internado no Hospital Carlos Chagas, em estado grave.

Lígia Mara, de 27 anos, é perueira há cinco anos. Como seu carro não está regularizado, trabalha na clandestinidade. Recebe R$ 120 por dia e se queixa da abordagem feita pelos fiscais. “Certa vez, eles apreenderam os carros estacionados, enquanto a gente tomava café num bar”, afirma. Acabaram levando seu carro.

Segundo a Assessoria de Imprensa da prefeitura de Guarulhos, a fiscalização foi intensificada desde a semana passada. Mas a assessoria nega que os fiscais tenham se tornado mais violentos. O que mudou, segundo a prefeitura, foi a retomada de um convênio de fiscalização com a Polícia Militar e o estabelecimento de um acordo com o Sindicato dos Condutores Rodoviários e Transportes Urbanos. Com essas mudanças, as apreensões – que eram de duas por dia – chegaram a uma média de 12. Pietá afirma que a fiscalização vai continuar. “Não admitimos nenhuma conversação com o sindicato, que é uma máfia. Eles querem exercer um papel que é do poder público.”

“Caso de polícia”

Para o prefeito, os perueiros já são caso de polícia e não de serviço público. Isso explica a escolha do sociólogo Guaracy Mingardi como novo secretário de Serviços Públicos. Mingardi, que já foi diretor da Guarda Civil e assumiu a secretaria anteontem, é o responsável pelas questões da categoria dos perueiros.

Pietá diz que buscou opções para inserir os clandestinos no mercado de trabalho: “Oferecemos autorizações para transporte escolar e fretamento, mas eles não quiseram.” O presidente do Sindicato dos Perueiros de Guarulhos, Cícero Sebastião de Araújo, conhecido como Mossoró, afirma que a insatisfação deve-se à maneira como os perueiros são abordados. “A prefeitura contratou leões-de-chácara para reter as peruas e bater nos perueiros”, acusa. O prefeito diz que vai apurar as denúncias.

Ontem à tarde, os perueiros saíram em carreata com o objetivo de denegrir a imagem de Pietá. “Queremos mostrar que o sindicato tentou chegar a um acordo, mas não conseguiu”, diz Araújo. Eles concentraram-se no centro de Guarulhos e depois se dirigiram à sede do sindicato.

Pietá é favorável a uma ação conjunta com a Prefeitura de São Paulo, também do PT: “Quando a Prefeitura de São Paulo aumenta a fiscalização, aumentam as peruas clandestinas aqui em Guarulhos. Deveríamos trabalhar juntos.”