Em busca da recuperação do crédito
O esforço do consumidor em “limpar o nome”, aliado à intenção de varejistas e instituições financeiras de facilitar a negociação de dívidas, está dando resultados. Na primeira quinzena de setembro, o cancelamento de registros no Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) cresceu 19,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Ou seja, o número de pessoas que conseguiram recuperar o crédito foi quase 20% maior que em 2002. O “nome limpo”, no entanto, não levou o consumidor de volta às compras, deixando mais uma vez o comércio com movimento negativo.
Segundo o diretor do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o economista Marcel Solimeo, as estatísticas refletem um movimento contínuo que vem ocorrendo nos últimos meses. “O cancelamento de registros negativos vem crescendo sistematicamente ao longo do ano”, afirma.
Para ele, a expectativa de um cenário econômico melhor, com a redução dos juros, tem impulsionado o varejo e os bancos a alongarem os prazos para o saldo de dívidas. Uma pesquisa recente realizada pela ACSP mostrou que 69% das pessoas que quitaram seus débitos receberam uma oferta vantajosa de seus credores.
Do outro lado, o estudo mostra também o esforço dos consumidores em se reabilitarem. Para equilibrar suas contas e fazer os pagamentos atrasados, a maioria dos entrevistados pela ACSP optou pela contenção de outros gastos.
Consumo fraco – Mas, embora esteja crescendo o número de pessoas aptas a voltar a comprar, o movimento do comércio continua ruim. Durante os primeiros quinze dias de setembro tanto as consultas ao SCPC quanto ao Usecheque caíram 1,7% em relação ao mesmo período de 2002. Os indicadores refletem, respectivamente, as vendas a prazo e a vista no varejo.
Marcel Solimeo explica que isso está acontecendo porque, apesar da expectativa de uma melhora no futuro, o consumidor ainda não se sente confiante o suficiente para comprar. “Para puxar o freio é rápido, já acelerar é bem mais devagar”, brinca, ao explicar que a contração da economia geralmente é rápida, e a expansão lenta. Ele, no entanto, aposta em uma melhora nos próximos meses deste ano.
“É possível que haja uma recuperação do movimento ainda em 2003, mas não crescimento. Certamente teremos um resultado positivo em outubro”, afirma o economista. Segundo Solimeo, é importante que o resultado do mês de dezembro pelo menos empate com o de 2002.
Esperança – “O ano precisa fechar melhor para que o comércio se anime a comprar da indústria. Senão, 2004 já começaria ruim”, explica. Mas, para que isso aconteça, o diretor da ACSP lembra que é fundamental que a política economia continue no caminho de redução das taxas de juros e dos depósitos compulsórios dos bancos.
Estela Cangerana