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Confecção troca marca própria por aumento no lucro

Guarulhos, 01 de abril de 2002

A terceirização tem sido a saída que alguns donos de confecções têm encontrado para continuar levando seus negócios em frente e lucrar mais.

Hoje, é comum encontrar fabricantes que abriram mão de ter sua marca própria para fabricar roupas para outras marcas.

Aumentar o lucro da empresa foi o motivo que levou o empresário Rafael Marco Levi a começar a terceirizar a produção de sua confecção. Quando Levi voltou de uma temporada morando no exterior, há oito anos, ficou a seu cargo administrar a Zugos, antiga loja de roupas de seu irmão. Desde o início, resolveu arriscar. Optou por mudar o nome da empresa para Farway e passou a vender peças apenas no atacado, para outros lojistas revenderem. Deu certo, é o que a Farway faz até hoje. “Hoje, posso escolher meus clientes”, diz Levi. A Farway fabrica roupas infanto-juvenis, principalmente no estilo surf-wear.

Seu papel, entretanto, não é apenas fabricar as roupas, mas também desenvolver os modelos, de acordo com o pedido das lojas. À empresa também cabe etiquetar as roupas com o nome da marca da loja que vai vendê-las no varejo. Apesar de a Farway ter vários clientes, tudo o que é produzido para cada marca revendedora tem uma “cara” diferente. “Tudo o que as marcas compram da gente é exclusivo para cada uma delas”, garante Levi.

A Farway produz, atualmente, cerca de 10 mil peças por mês. Uma de suas clientes mais antigas é a Hang-Loose, grife voltada para surfistas – que, por sua vez, possui vários outros fornecedores semelhantes à Farway.

Como a Farway faz parte de uma cadeia de produção que envolve quatro etapas (eles fabricam, vendem para a fábrica da loja, que vende para a loja que, por sua vez, vende para o consumidor), a margem de lucro, em geral, é pequena: de 10% a 15%. Segundo Levi, porém, esse é um negócio compensador.

“Quem terceiriza está em uma situação complicada, porque precisa vender muito para poder ter algum lucro real. No fim, sempre dependemos dos grandes clientes.”

Modelos exclusivos para os clientes

A Confecções Maurício, localizada no bairro do Bom Retiro, na zona norte de São Paulo, é outra empresa especializada na venda de roupas para revenda.

A Maurício vende moda feminina em malha, no atacado, para cerca de uma dezena de clientes fixos e para dezenas de outras lojas. Um dos sócios da empresa, Ariel Bekhor, diz que algumas dessas lojas revendem as roupas fabricadas por eles com a etiqueta da Confecções Maurício. “Outras retiram a nossa etiqueta e colocam a deles”, explica. Para esses lojistas, que usam os produtos da confecção, mas os vendem com suas marcas próprias, as peças são exclusivas. “Essas lojas pedem para a gente desenvolver peças para elas, por isso, vendem modelos exclusivos fabricados por nós.”

A Confecções Maurício produz de 15 mil a 20 mil peças por mês e existe há mais de 40 anos. Segundo Bekhor, a idéia de se criar uma marca própria para vender as roupas fabricadas pela empresa nunca existiu. “Vendendo nossos produtos no atacado, podemos ter apenas um ponto de venda. Se fôssemos vender no varejo, precisaríamos de uma estrutura mais complexa e gastaríamos muito para abrirmos lojas nos shopping centers ou mesmo na rua.”

Comprar roupas feitas por pequenas confecções para revender com sua própria etiqueta é um negócio que tem se tornado comum até mesmo entre grandes marcas. Grifes como Zoomp, Fórum, Ellus e Triton teceirizam a produção das roupas que vendem, porque não possuem confecções próprias. O mesmo ocorre com grandes redes de lojas, como C&A e Renner, que contam com diversos fornecedores para produzir as roupas e acessórios que elas vendem ostentando suas marcas.

AIANA FREITAS