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Comércio quer que governo controle taxas dos cartões

Guarulhos, 29 de abril de 2002

arteA Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), em nome dos 143 sindicatos que representam mais de 800 mil varejistas e 640 mil estabelecimentos comerciais da capital e do interior, quer que o Banco Central adote algum mecanismo de controle sobre as taxas praticadas pelas operadoras de cartões de débito.

De acordo com Wilson Tanaka, diretor da entidade e presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Alimentos (Sincovaga), a reivindicação será encaminhada ao BC “nos próximos dias”. Segundo Tanaka, o setor considera “absurdas” as taxas cobradas pelas administradoras pelo uso dos cartões de débito (entre 1% e 1,5% por operação). “Mas, como a tarifa varia conforme a localização e o risco do ponto, os pequenos varejistas estão pagando taxas de 2,9% a 3%” mais os custos de locação das máquinas que lêem os cartões (R$ 70 cada uma).

O diretor da Fecomércio calcula que o impacto do cartão de débito chegue a 8,2% do faturamento do setor. Na sua opinião, esse percentual deverá crescer ainda mais com a implantação do novo Sistema de Pagamento Brasileiro (SPB), que favorece o uso do cartão de débito.

Atualmente, o número de cartões de débito no mercado é estimado em 60 milhões. “Com o SPB, as administradoras se tornarão mais poderosas e poderão praticar as taxas que lhes forem mais convenientes”, afirma.

A questão do cartão de débito foi amplamente discutida na semana passada pela Federação do Comércio de São Paulo. Wilson Tanaka, porém, faz questão de deixar claro que “o nosso movimento é independente da ação dos supermercados. Não pensamos, no momento, em deixar de aceitar cartões de débito nos nossos estabelecimentos. Queremos, sim, que o Banco Central responda às nossas indagações e firme posição a respeito”.

O dirigente aproveita para mandar um recado: “A Fecomércio não quer ouvir respostas do tipo ?nós não temos ingerência nessa questão?, pois entendemos que o Banco Central tem a obrigação de ser o canal disciplinador dos excessos financeiros do mercado”.

Diante disso, ele assegura que a entidade será firme em sua colocação, “pois o ônus dessas transações estão recaindo sobre o varejo. Os bancos estão se aproveitando da situação e substituindo os cheques pelos cartões e, por razões como essa, se o BC é o órgão máximo responsável pelas operações financeiras, deve tomar providências sobre o assunto”.

Tanaka acrescenta que se os supermercadistas até agora não conseguiram diminuir as taxas, apesar da ameaça de boicote, a Fecomercio-SP deve defender os seus associados. “Nós não representamos só os supermercados, mas o comércio como um todo”, afirma, ressaltando que, depois da resposta do BC, a Fecomercio-SP também vai se reunir com as administradoras para negociarem as taxas.

O movimento contra os cartões de débito teve início quando os supermercados Pão de Açúcar, Carrefour e Wal Mart declararam que não mais aceitariam os cartões. A esses supermercados se somaram outros, como o Sendas, Sonae, Bom Preço, Sé. Mas diante de advertência da Secretaria de Direito Econômico, acusando-os de terem tomado a medida em bloco, caracterizando a formação de cartel, o que poderia lhes causar pesadas multas, as redes suspenderam o boicote e, desde, então, estão negociando taxas mais convenientes com as administradoras dos cartões de débito para as operações diárias em seus estabelecimentos.

Celia Moreiram