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Comércio paulista defende crédito positivo

Guarulhos, 16 de setembro de 2003

“Crédito positivo”, que premia com vantagens o bom pagador, financiamentos maiores e juros menores são algumas estratégias defendidas por representantes do comércio paulista para recuperar as vendas do varejo. O custo do dinheiro menor para os vons pagadores é uma modalidade de empréstimo, que já existe em alguns países europeus e nos Estados Unidos é citada por Alencar Burti, presidente do conselho do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP) , que se pergunta: “de que adianta podermos divulgar informações de que um consumidor não pode comprar se não criamos estímulos para o bom cliente, dando-lhe condições favoráveis para comprar?” Ele diz que o crédito positivo não existe no País, ?porque a legislação impede a divulgação destas informações sob a alegação de invasão de privacidade?. Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), afirma que o bom pagador deveria ter taxas menores, o que não acontece.

Ao mesmo tempo que aguarda mais crédito para aquecer as vendas, o comércio paulista espera a queda de, no mínimo dois pontos percentuais nas taxas de juros, na reunião do Conselho de Política Monetária (Copom). Eles acreditam ser primordial a continuidade da redução das taxas, já que dados divulgados pelo IBGE revelam que um cenário de juros altos, alta taxa de desemprego e renda em queda conduziu novamente a um desempenho negativo no volume de vendas do comércio varejista, que caiu 4,36% em julho, perante julho do ano passado.

Segundo Alencar Burti, a recuperação do comércio paulista passa por uma fusão de matemática e ambiente. “Os juros devem cair hoje, no próximo mês e, assim sucessivamente, pois só assim teremos o retorno do consumidor às compras”.

Abram Szajman, presidente da Fecomércio-SP destaca que, atualmente, o volume de crédito na economia é o menor das últimas quatro décadas, de apenas 25% do PIB, aproximadamente. “O Brasil já chegou a ter 45% do PIB dirigido ao crédito (na década de 70). Para se ter uma base de comparação, basta citar que vários países da União Européia trabalham com mais de 100% do PIB em crédito”. Szajman, destaca que o efeito de uma queda da taxa de juros na atividade econômica depende de vários fatores, além da taxa básica propriamente dita. “Entre outros fatores estão a redução do compulsório, a criação de linhas especiais de crédito, estimulo à competição bancária e, principalmente, um ambiente macro e micro econômico adequado, que estimule os empresários a investir, empregar e financiar”.

Ele afirma que para o crédito voltar à cadeia produtiva o governo tem que fazer políticas responsáveis que reduzam sua necessidade de financiamento. “Além disso, o governo é um espectador privilegiado, que mesmo numa economia de mercado, deve acompanhar e atuar no sentido de minimizar as imperfeições desse mercado”. Szajman destaca caber ao governo coibir os efeitos nocivos da diferença do poder econômico entre quem empresta dinheiro e quem toma dinheiro emprestado. “Um setor oligopolizado, por exemplo, requer um tratamento que reduza essa imperfeição. O governo pode e deve estimular a competição, impedir contratos leoninos e abuso de poder econômico. Incentivar cooperativas de crédito e conceder micro crédito por meio dos bancos oficiais são outras iniciativas que o governo deve adotar”.

Szajman afirma que setores diferentes podem trabalhar com taxas de juros diferentes. “Não existe uma taxa de juros, mas muitas”, diz. Na sua opinião, em se falando da taxa genérica geral de juros, ele espera que o Brasil possa trabalhar com taxas reais de um dígito, seguindo o caminho de países europeus e dos Estados Unidos (que tem taxas de 2% no máximo), ou, mais proximamente, de países como Chile ou México, com taxas entre 8% ou 9%.

Ele diz que simplesmente baixar a taxa Selic nem sempre traz efeitos positivos sobre o mercado, em razão dos altos juros cobrados pelos bancos e que entre a taxa básica e a taxa ao consumidor existe uma série de custos, “que são administrativos, tributário, de risco e, finalmente, a margem ou lucro. Podemos trabalhar todos esses fatores, mas a condição principal para a redução do spread deveria ser a concorrência bancária”.

Szajman ressalta que a composição das taxas de juros é genérica e existem estudos do Banco Central para o mercado bancário, embora seja difícil descer ao detalhamento banco a banco. “O que dá para auferir neste mercado é o fato de que, apesar da inadimplência elevada, os lucros do sistema financeiro são extraordinários, portanto existe espaço para a queda dos juros”.

Celia Moreira