Notícias

China proíbe mais 15 empresas brasileiras de exportar soja

Guarulhos, 15 de junho de 2004

A China acrescentou nesta segunda-feira mais 15 empresas à lista dos fornecedores de soja brasileira que estão proibidos de exportar para o país, em uma ação que deixa próxima a suspensão, na prática, do comércio de soja entre os dois países.
 
Traders afirmaram que uma das poucas empresas que escaparam da proibição até agora foi a Wilmar Holdings Pte Ltd, de Cingapura, que possui várias joint-ventures com esmagadores chineses e foi responsável por quase a metade das importações de soja da China em 2003. 
 
A atenção do mercado estava centrada agora para um carregamento de soja brasileira agenciado pela Wilmar que está parado no porto de Qinhuangdao, no norte da China. A soja foi importada pela Wilmar para uma de suas processadoras na região. 
 
Traders dizem que se essa carga não passar pelo controle de qualidade da inspeção sanitária chinesa, então praticamente estará suspenso o comércio de soja entre o Brasil, segundo maior produtor mundial, e a China, maior importador.
 
“Os funcionários da quarentena (órgão conhecido como CIQ) ainda estão checando a carga. Eles intensificaram a inspeção testando praticamente cada grão do navio”, disse um funcionário da esmagadora em Qinhuangdao que encomendou a soja.
 
“Estamos muito preocupados e mantendo nossos dedos cruzados”, acrescentou. 
 
Um inspetor da CIQ disse à Reuters que a checagem do carregamento da Wilmar, para verificar se contém sementes tratadas com agroquímicos considerados prejudiciais à saúde, levaria alguns dias. 
 
As 15 novas firmas colocadas na lista negra do governo chinês incluem a Bunge Agribusiness Singapure Pte Ltd, a Glencore Importadora e Exportadora S.A. e o Sumitomo Corp do Brasil S.A. 
 
Já estavam na lista outras grandes empresas, como a ADM do Brasil, a Louis Dreyfus Asia, a Cargill Agrícola e a Noble.
 
 
QUASE TODOS FORA
 
Com a nova lista, o total de empresas brasileiras ou de unidades no país de multinacionais de comércio de grãos proibidas de exportarem soja brasileira à China subiu para 22. 
 
A China barrou temporariamente estas empresas de exportarem soja alegando ter encontrado agroquímicos como o fungicida carboxim, produtos que teriam sido usados para tratar sementes de soja que deveriam ser usadas para o plantio mas acabaram sendo misturadas à soja em grão. 
 
Alguns países permitem a presença de sementes de soja até um limite estipulado. Na Europa e nos Estados Unidos esse limite é de 3 sementes por quilo de soja. O Brasil revisou sua legislação na semana passada, passando a permitir apenas 1 semente por quilo, mas a China exige a chamada “tolerância zero” para a soja brasileira. 
 
O governo brasileiro informou na sexta-feira que iria pedir ao governo da China que reavaliasse sua conduta no caso. 
 
“Nós estamos proibindo estes exportadores e seus fornecedores no Brasil para proteger a saúde de nossos consumidores”, informou a CIQ em um comunicado com o lista das empresas divulgado em seu site (www.agsiq.gov.cn). 
 
“Esse é definitivamente um problema para nós e se a Wilmar também for incluída na lista, então poderemos dizer que todos estão fora (do comércio de soja com a China)”, afirmou um trader de uma grande multinacional do setor com escritório em Shangai. 
 
Com a ampliação da lista, traders calcularam que praticamente todo o volume entre 3 e 3,5 milhõs de toneladas de soja brasileira, avaliado entre 1,2 e 1,4 bilhão de dólares, encomendado por empresas chinesas para embarque entre maio e julho, estaria comprometido. 
 
“Com essa medida, os esmagadores terão um auxílio”, afirmou um trader. 
 
Os processadores de soja chineses estão passando por dificuldades financeiras por terem comprado a soja no momento em que ela registrava picos histórios de preço. Posteriormente os valores caíram bastante e eles ficaram com suas margens de lucro negativas. 
 
Além disso, o governo chinês tem restringido o crédito interno, para reduzir o nível de crescimento da economia, o que também afetou os esmagadores. 
 
Por estes motivos, traders já afirmaram que a conduta do governo chinês sobre a soja brasileira seria um subterfúgio para poder devolver carregamentos comprados com preços muito altos.