Carros pela metade do preço em 2004
Entidades ligadas à indústria automobilística, ao sistema financeiro e ao comércio, em conjunto com o governo, estão debatendo uma nova modalidade de crédito que deve impulsionar o mercado de veículos em 2004. É a chamada “Locação Financeira”, que consiste em se adquirir a licença de uso do veículo por um prazo mínimo de dois anos, com uma prestação proporcional à metade do valor do bem, acrescida de encargos, juros, seguro e outros serviços.
“Acredito que até abril ou maio a Locação Financeira já esteja no mercado”, informou, Guilherme Afif Domingos, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), entidade que tem coordenado e sediado os encontros para debate do projeto. O setor acredita que as vendas de veículos poderão crescer até 17% no próximo ano se a proposta for aprovada.
Além de incentivar a venda dos carros zero-quilômetro, a nova modalidade também beneficiaria os consumidores de usados. É que passados os dois anos da primeira locação, o bem seria alugado novamente como veículo usado, sistema que se repetiria até o automóvel alcançar seis anos de uso.
Como atualmente não existe leasing (aluguel) para veículo usado, estaria se criando uma importante ferramenta de crédito para beneficiar os consumidores de menor poder aquisitivo. “Em todo o mundo, carro popular é o carro usado. É muito importante criar mecanismos para movimentar esse segmento, pois a melhoria da venda de novos está diretamente ligada ao crescimento dos negócios com usados”, explicou o presidente da ACSP.
Interesse do governo – Segundo Guilherme Afif Domingos, o próprio governo tem interesse no incentivo ao crédito e no crescimento do setor automotivo. A intenção é a de redefinir o Sistema de Crédito Brasileiro, com alterações na legislação que propiciem redução dos custos e incremento do consumo.
Uma das propostas é a de se criar o cadastro positivo. “Atualmente, só há notícia sobre o mal pagador. A idéia é inverter essa situação. O bom pagador tem de ser a notícia e adquirir o direito a melhores condições de crédito”, salientou Afif Domingos.
Benefícios – Um dos principais objetivos da Locação Financeira é reduzir os custos para o consumidor final. “Em um financiamento tradicional é preciso embutir o custo da inadimplência e das dificuldades na recuperação do bem. Já no sistema de Locação Financeira, a retomada do veículo seria automática, visto que se trata de uma licença de uso do bem”, explicou o presidente da ACSP.
O cliente que optar por essa nova modalidade de crédito terá direito à compra do veículo com desconto ao final do período do contrato. No pacote devem ser incluídos, além da licença de uso e do seguro do próprio bem, o seguro de proteção mecânica (garantia estendida) e a revisão pré-paga (que pode ser feita por quilometragem ou por tempo de utilização do carro).
O valor da prestação levará em conta a depreciação durante o tempo de uso. Como, na média, um carro desvaloriza-se em 50% ao longo de dois anos, a prestação teria por base metade do valor do veículo novo. Cálculo similar, sempre com base na depreciação média, seria feito para o carro com dois a quatro anos e de quatro a seis anos de uso.
Para equacionar o projeto, vários segmentos da indústria automotiva e do sistema financeiro, com a participação de executivos do Banco Central, estão se reunindo periodicamente na ACSP. Entre as entidades participantes estão a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), a Associação Brasileira das Empresas de Leasing (Abel) e a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).
Ao defender o projeto de Locação Financeira, Afif Domingos lembrou que nos Estados Unidos o crédito equivale a 130% do Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil, essa participação é de apenas 24%. “A retomada do crescimento econômico depende diretamente da maior oferta de crédito”, concluiu.
Alzira Rodrigues