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Butiques nos hipermercados

Guarulhos, 22 de maio de 2002

Pisos de madeira, cabines espelhadas, costureiras de plantão – para o caso de a roupa precisar de acertos – e coleções inspiradas nas últimas tendências da moda internacional. Não se trata da descrição de um grande magazine ou de uma loja no shopping e, sim, da seção de vestuário do hipermercado Extra, localizado na zona Sul de São Paulo. Como ele, outros passaram a incluir uma seção de roupas na tentativa de despertar, no Brasil, um hábito de europeus e norte-americanos. É um bom negócio não só para o varejo como também para a indústria, que começa a produzir até peças exclusivas para os hipermercados.

“Não é apenas um investimento maior em vestuário, mas em produtos fora do segmento tradicional de alimentos/higiene e limpeza, como roupas, calçados, cosméticos, cama e mesa, utilidades do lar”, afirma o consultor Marcos Gouvêa de Souza, da Gouvêa de Souza & MD. Para Souza, os hipermercados estão buscando diferencial e maior rentabilidade, já que enfrentam forte concorrência nos segmentos tradicionais.

Além disso, acrescenta, produtos mais sofisticados trazem rentabilidade maior. “Os hipermercados cativam o cliente e aumentam as margens de lucro”, diz. Souza observa que os hipermercados estão mudando de conceito. “Eram voltados apenas para preço baixo e começam agora a parecer mais com os europeus e americanos, que apostam no conforto”.

Grifes no Extra

O Extra, rede de hipermercados do grupo Pão de Açúcar, decidiu investir fortemente na diversificação. A empresa foi além da criação de espaços diferenciados para venda de artigos de vestuário e cama, mesa e banho. Em março, lançou três grifes próprias: a Arkitect (feminina), a Cast e a BreakSea (masculinas), que custaram R$ 2 milhões entre desenvolvimento e campanhas na mídia.

Agora, planeja uma iniciativa agressiva para promover ainda mais as marcas. Rose Silveira, diretora de comercialização do departamento têxtil, não quis adiantar os planos da rede. Mas, admite que estuda algo na linha da promoção de desfiles de moda. Iniciativa semelhante foi tomada pelas grandes redes de departamentos, como Renner e Riachuelo, que passaram a patrocinar eventos de moda no eixo Rio-São Paulo. Maior concorrente do Extra, o Carrefour também reservou espaços especiais para a área de vestuário.

A oferta de novos itens não tem sido comum apenas nas redes com forte atuação nas capitais da moda, Rio e São Paulo. Os hipermercados do grupo Bom Preço, de firme presença no Nordeste, também apostam no vestuário. “As vendas têm crescido e nós estamos acreditando em produtos que não chegam a ser os de butiques, mas que são de boa qualidade”, diz Raymundo Almeida, gerente de relações com a comunidade do grupo.

Os principais produtos vendidos na rede nordestina, contudo, são os básicos, como meias, calças jeans e lingerie. “Ainda não temos uma grife própria”, diz o gerente. No entanto, o segmento de vestuário foi escolhido para integrar o chamado “gerenciamento de categorias”, feito a partir de um estudo profundo, desde a seleção de fornecedores até o público alvo. Com o resultado, a rede decidirá se aumenta o investimento ou até mesmo cria uma grife própria.”A compra de roupas básicas nesses locais já virou uma tendência”, diz o gerente.

O preconceito em relação à roupa vendida em hipermercados parece que começa a ser vencido no Brasil. Na loja do Carrefour do Shopping Eldorado, a empresária Laís Mota, dona de um ateliê de grinaldas para noivas, experimentava uma calça jeans da marca Kowarick. “Por R$ 38 vou comprar um produto que custaria o triplo no shopping e que, na maioria das vezes, é do mesmo fabricante, só muda a marca “, diz a empresária, que trazia uma bolsa da loja francesa Louis Vuiton – uma das mais caras do mundo.

Oferta de know how

A loja de roupas masculinas Yachtsman está desenvolvendo coleções para vendê-las a supermercados. Inicialmente, quer oferecer seu know how na montagem de coleções e, posteriormente, pretende lançar uma marca só para abastecer o varejo, informa o proprietário Marcelo Abrão. “O grande crescimento no Brasil é no mercado popular, mas, com um público cada vez mais exigente. Se oferecermos preço pouco maior, mas com diferenciais, venderemos bem”.

A Coteminas, fabricante de tecidos para roupa de cama, mesa e banho, também está otimista com as vendas para o varejo supermercadista. “No Brasil, tem crescido a participação da distribuição de têxtil para os hipermercados”, destaca Josué Gonçalves da Silva, presidente da empresa, sem divulgar números. A companhia fornece também para empresas que vendem no varejo norte-americano. “Nos Estados Unidos, essa tendência já é antiga, mas no Brasil começa a chegar.”