Brasil se arma para guerra da tecnologia
O Brasil está entrando na briga por um destacado lugar ao sol da nova economia. Para isso, está disposto a oferecer às multinacionais de tecnologia de ponta, condições especiais de financiamento e incentivos fiscais para a instalação no país de fábricas de circuitos integrados, o cérebro da microeletrônica atual. Esta indústria, que movimenta cerca de US$ 140 bilhões por ano, está concentrada hoje nos Estados Unidos, na União Européia e na Ásia. Na balança do setor, o déficit comercial brasileiro chegou no ano passado a US$ 3,557 bilhões, dos quais US$ 2,523 bilhões só no segmento de componentes. Isto sem contar a chamada eletrônica embarcada, ou seja, circuitos usados em produtos de outros setores, como automóveis e celulares.
A estratégia foi traçada, ao longo de nove meses, por um consórcio formado pelas consultorias A.T. Kearney e International Data Center (IDC) e pelo escritório de advocacia Azevedo Sette, em conjunto com representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos Ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e de Ciência e Tecnologia. O parto transcorreu sem problemas, a despeito de o estudo ter sido encomendado ainda no governo anterior. A força-tarefa procurou os principais fabricantes de circuitos do planeta, buscando investigar o que era preciso para atrair investimentos.
O levantamento orientou boa parte da política industrial para microeletrônica detalhada pelo governo federal há duas semanas. Entre as mudanças, estão normas para facilitar o desembaraço de mercadorias nas aduanas, já que o setor demanda volumosas importações para operar. O sonho de consumo do governo é atrair unidades de front-end, leia-se fabricação de circuitos integrados, etapa mais sofisticada da cadeia produtiva e responsável por dois terços do faturamento das empresas do setor.
Para isso, o BNDES estuda financiar multinacionais do setor, ou mesmo se associar aos grupos que investirem no Brasil, por meio de seu braço de participação, a BNDESPar.
– O BNDES tem financiado grandes projetos nos setores de siderurgia, papel e celulose, por que não apoiar a instalação de uma unidade de microeletrônica, estratégica para o país? – questiona Regina Maria Vinhais Gutierrez, gerente do Departamento de Indústria Eletrônica do BNDES e integrante do grupo de trabalho que orientou o estudo.
– Não é uma questão de priorizar o capital estrangeiro. Este tipo de indústria não existe no país. Mas é claro que, se surgir um projeto autóctone, o banco avaliará e apoiará.
Com a entrada no universo da tecnologia de ponta, o governo não espera apenas reduzir o déficit comercial, mas também induzir a formação de uma rede de empresas, com empregos altamente qualificados.
– Nenhum país se estabelece nessa indústria sem o elo de fabricação – explica Regina.
Marcelo Kischinhevsky