Banco lucra o triplo da indústria
O ano de 2001 dificilmente será esquecido pela maioria dos bancos brasileiros. Os balanços desses gigantes financeiros já divulgados mostram resultados fenomenais, como o do Bradesco, lucro recorde de R$ 2,17 bilhões, e o do BankBoston, que registrou o maior resultado dos 55 anos de história no país, um lucro líquido de R$ 737 milhões, 200% acima da performance registrada em 2000.
“Os bancos mostraram que sabem dançar conforme a música e ganhar dinheiro com inflação alta ou sem inflação”, diz o consultor financeiro Carlos Daniel Coradi, da EFC Consultores. Os balanços divulgados até agora representam apenas uma parcela do setor financeiro, mas já dão clara mostra da lucratividade dos bancos.
Outro especialista em análise de balanços de instituições financeiras, Erivelto Rodrigues, sócio da Austin Associados, prevê que os bancos deverão registrar em 2001 rentabilidades médias sobre seus patrimônios entre 16% e 17%, enquanto as empresas produtivas prometem fechar o ano passado com algo em torno de 5% a 7%.
“Racionamento, impacto dos juros altos e recessão dos Estados Unidos agravada pelos atentados terroristas formaram um cenário pouco propício para vários ramos de negócios”, lembrou Erivelto Rodrigues. Empresas, por exemplo, como Copene, Embratel e Sifco (fundição) não terão saudades de 2001, com os balanços tingidos de vermelho.
Desvalorização – A Embratel, por conta da desvalorização do real e das provisões feitas para devedores duvidosos, acaba de anunciar que registrou um prejuízo de R$ 553,6 milhões em 2001 contra um lucro líquido bem parecido, de R$ 577,8 milhões em 2000. “Quem tinha dívida em dólar ou fez grandes investimentos ficou em pior situação. Agora, com o fim do racionamento e a proteção dos caixas em relação ao dólar, a situação vai melhorar. Este ano não será como o que passou”, prevê a analista de investimentos Aireslene Rocha.
Nem todas as companhias foram atingidas da mesma forma no ano passado. “Vão se salvar as grandes empresas, exportadoras, sem dívidas e que tenham mercados cativos, como a Petrobras, Vale do Rio Doce e Sadia. A grande maioria das pequenas e médias será atingida em cheio pelos juros altos e vendas mais fracas”, prevê Carlos Antônio Magalhães, analista da consultoria Sirotsky & Associados. A Sadia, impulsionada pelas vendas externas, registrou no ano passado lucro de R$ 202 milhões, bem superior aos R$ 39,5 milhões de 2000.
Transferência – Com a experiência de quem acompanha a performance das 400 maiores empresas abertas brasileiras nos últimos 20 anos, Magalhães explica que a diferença de rentabilidade entre bancos e o setor produtivo sempre foi alta. Mas se acentuou nos últimos seis anos, no início do primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. “É muito expressiva essa diferença de três vezes. Houve, sem dúvida, uma transferência enorme de renda do setor produtivo para o setor financeiro neste governo”, avalia o analista da Sirotsky.