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Avaliações de risco-país devem ser levadas a sério?

Guarulhos, 06 de maio de 2002

Na última semana ficou claro como são frágeis as projeções de risco feitas por agências classificadoras e bancos estrangeiros. Na quinta-feira, dois bancos fizeram recomendações negativas para o Brasil. O efeito não poderia ter sido pior. Muita gente que aplica em bolsa chegou inclusive a perder dinheiro. A bolsa de valores paulista registrou perdas de 4,17% no fechamento do dia. As análises receberam críticas de profissionais do mercado financeiro e também do governo. Analistas acharam injustas as avaliações feitas principalmente pelo ABN Amro, que havia rebaixado a recomendação de compra de títulos da dívida externa brasileira. Um dia depois, na sexta-feira, quatro bancos (JP Morgan, Dresdner, Lloyds e Barclays) declararam que mantinham a recomendação no Brasil. A própria diretoria do ABN Amro, no Brasil, em uma atitude inesperada, publicou matéria paga nos jornais dizendo que não concordava com a recomendação feita por analistas do banco de Nova York. A reação do mercado foi imediata. A bolsa paulista fechou a sexta-feira em alta de 0,57%.

Projeções catastróficas – Essa não é a primeira vez que análises catastróficas prejudicam o Brasil. Há bem pouco tempo, a classificação de risco da Argentina era bem melhor do que a o Brasil. E a Argentina provou que não tinha aquela capacidade de pagamento que asseguravam as agências. Muita gente pode ter perdido dinheiro nesse período por ter preferido investir na Argentina do que no Brasil.

Lição para ser aprendida – O episódio da semana passada traz ainda mais uma lição: de que não há semana tranquila para o mercado financeiro, principalmente em ano de eleições presidenciais. O investidor estrangeiro tem visto com desconfiança a disparada do Lula na sucessão presidencial. Tem visto também, com apreensão, um possível segundo turno com Lula e Garotinho. Seria a vitória da oposição. Essa apreensão deve persistir até outubro, quando acontecem as eleições presidenciais. Até lá tudo pode acontecer e mudar.

Europa conservadora – Mesmo que o candidato de esquerda não tenha um discurso radical, e garanta que manterá em curso a política monetária, o temor persiste. Acrescente a isso o fato de que alguns países europeus estarem no caminho inverso do Brasil, com partidos de extrema direita ganhando destaque, como ocorre atualmente na França. O economista do Ibmec, Carlos da Costa, não acredita, porém, que a extrema direita irá vencer na França. Mas nem por isso descarta que os europeus estão mais apreensivos com o Brasil.

Adriana Gavaça