Argentinos querem barrar calçados do Brasil
O País voltou a assistir, nesta semana, a mais um capítulo da novela protecionismo da indústria argentina. Desta vez, trata-se do setor calçadista. O presidente da Câmara da Indústria do Calçado (CIC) da Argentina, Alberto Sellaro, acusou o Brasil de ter violado um acordo que limita as exportações de calçados. Por esse motivo, os argentinos voltaram a pedir medidas restritivas à exportação de calçados daqui para seu mercado.
Por seu lado, a Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados) reiterou que nunca fechou acordo de cotas para venda de mercadorias ao país vizinho. Portanto, não pode ser acusada de ter violado nenhum acordo.
A Abicalçados também rebateu acusações da indústria argentina de que os produtos brasileiros são subsidiados. “Não há subsídios”, disse o diretor-executivo da associação, Heitor Klein.
Amparo legal – Segundo ele, não está prevista reunião entre os empresários dos dois países para discutir a questão. O executivo brasileiro afirmou que o tema está na pauta das discussões bilaterais há mais de um ano e que os brasileiros não pretendem aceitar cotas “porque não seria funcional e nem teria amparo legal”.
Segundo ele, não há lógica em forçar as mais de 300 fábricas de calçados que exportam para a Argentina a reduzirem suas vendas. “Uma coisa é convencer alguns empresários a diminuir as exportações. Outra, é convencer 300. O pessoal quer vender”, disse Klein.
No que se refere à legalidade de um acordo de cotas que pudesse ser fechado entre o setor privado dos dois países, Klein disse que não há marco jurídico que impeça uma empresa de conseguir de um juiz a liberação das vendas.
Espera – Enquanto isso, a indústria paulista observa com atenção a ofensiva argentina. Afinal, o país é o segundo maior parceiro comercial do Brasil (US$ 7,4 bilhões no ano passado) e, por isso mesmo, é um mercado que desperta muito interesse dos brasileiros.
“Hoje em dia, os empresários pensam muito em exportar, e a Argentina é sempre o começo, pois o Mercosul nos dá o direito de vender a eles sem barreiras”, afirma o empresário Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Apoio – A importância do país vizinho para o comércio exterior brasileiro faz os empresários manterem o apoio ao Mercosul, em consonância com o governo, que tem dado prioridade ao bloco em sua política externa. “As relações estão tensas, mas não estremecidas”, disse Giannetti. Mas, segundo ele, a posição da Argentina contra as vendas brasileiras em alguns setores, como calçados, linhas branca e marrom e têxteis, é “incompreensível.”
Para o diretor da Fiesp, o país vizinho não tem as deficiências macroeconômicas do Brasil. O câmbio de lá é mais favorável à exportação que o daqui e a carga tributária portenha é inferior à nossa (20% do Produto Interno Bruto contra quase 40% no Brasil).
“Isso os coloca em vantagem em relação ao Brasil. Nós temos pressões tributárias e logísticas”, observou.
Giannetti disse, ainda, que é falsa a argumentação de que aqui a produção é subsidiada. “O que eles precisam é investir para enfrentar a concorrência; é enfrentar um choque de competitividade, assim como o Brasil já enfrentou”, sugeriu o representante da Fiesp.