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Alta do dólar afetará empresas

Guarulhos, 13 de junho de 2002

A disparada do dólar vai afetar o balanço financeiro das empresas no segundo trimestre. Só em junho, a alta acumulada pela moeda norte-americana chega a 9,3%. O sócio da consultoria Austin Asis, Erivelton Rodrigues, alerta que hoje as empresas estão ainda menos protegidas contra as oscilações cambiais do que no final de 2001 quando o dólar alcançou a cotação recorde de R$ 2,83.

Quem não se protegeu agora parece estar temeroso de entrar no mercado no momento errado. É o que afirma o vice-presidente de renda variável do Lloyds TSB, Pedro Thomazoni. “A pressão no dólar não reflete uma busca por hedge (proteção). Muitas empresas estão com medo de fazer hedge fora de timing e amargar perdas, como ocorreu com algumas delas em 2001.”

Isso foi o que ocorreu com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em 2001. A empresa demorou a fazer operações de proteção e registrou fortes perdas. Para manter o balanço no azul, precisou lançar mão de um artifício contábil, conhecido como diferimento cambial, que permite a empresa diluir ao longo de quatro anos as perdas com a alta do dólar. O mecanismo foi aprovado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para aliviar o balanço das empresas em 2001.

Telecom

“O impacto da disparada do dólar será muito forte no resultado das companhias no segundo trimestre. Boa parte delas tem dívidas em dólar”, disse o sócio da Austin Asis. Ele acredita que o setor de telecomunicações será um dos mais afetados com a histeria do câmbio.

Segundo a economista do BES Securities, Sandra Utsumi, boa parte das empresas estava apostando em um recuo do dólar e, por isso, não correu em busca de proteção, até porque o custo das operações de proteção é muito elevado. Ela argumenta que algumas empresas podem até desmontar operações de proteção caso o dólar dispare ainda mais. Isso porque o custo se torna alto demais e, muitas vezes, inviável. “O custo de carregar uma posição de hedge feita quando o dólar era cotado a R$ 2,60 é muito elevado. As vezes, vale a pena pensar em desmontá-la”, disse a economista.

O diretor de produtos de mercado de capitais do Bank Boston, Alberto Gaidys, revela que não há novas operações de hedge sendo feitas pelas empresas. “Nesse nível de taxa se torna muito caro e não vale a pena. Quem fez hedge no ano passado nesse nível saiu perdendo”, disse.

Dívida pública

Já o sócio da Austin Asis destaca que as incertezas de hoje são muito diferentes das verificadas em 2001. Agora, o grande motor da histeria do mercado de câmbio é a crise de confiança no Banco Central, com os investidores questionando a capacidade do governo rolar sua dívida pública.

“Existe uma crise de credibilidade. Antes, não se falava em risco de crédito para papéis públicos. Hoje, há bancos que não estão querendo comprar esses títulos”, disse.

Rolagem

Nesse ambiente de incertezas, a especulação tomou conta dos negócios e pressiona o dólar. A cotação da moeda norte-americana tem sido inflada ainda por outro ingrediente: a corrida das empresas para quitar as dívidas no mercado externo e diminuir a exposição ao câmbio. Como a rolagem ficou cada vez mais difícil, quem pode está pagando os empréstimos e esperando um momento mais oportuno para captar recursos.

Em junho, estão vencendo cerca de US$ 722 milhões em títulos privados no exterior e US$ 1,065 bilhão adicional em operações com call e put, na qual a credor pode exigir o pagamento antecipado dos títulos.

Mônica Ciarelli