Alta de preços atinge mais a classe média
Pelo terceiro mês consecutivo, a classe média pagou a conta da inflação. De acordo com o Índice do Custo de Vida (ICV), calculado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (Dieese), enquanto para os mais ricos a inflação foi de 0,14%, para os mais pobres os preços ficaram estáveis. No mês de maio, o índice registrou alta de 0,10% no município de São Paulo, ante alta de 0,74% em abril.
Para a supervisora de preços do Dieese, Cornélia Porto, essa queda do índice geral se deve principalmente à ausência de reajustes de tarifas públicas em maio e também à queda dos preços dos alimentos (-0,54%), que compensou os aumentos ocorridos em transportes (0,31%), habitação (0,19%) e vestuário (0,68%).
A vez da classe média
O Dieese calcula além do índice geral, a taxa de inflação por estrato social. No estrato 1 estão as famílias mais pobres, que têm rendimentos mensais de até R$ 377,49. O estrato 2 compreende as famílias com renda mensal média de R$ 934,17, também conhecido como classe média baixa. O Estrato 3 é o mais rico, da classe média, com rendimentos médios de R$ 2.792,90.
Em 2001, as altas da inflação foram maiores durante cinco meses para os mais pobres, dois para os estrato intermediário e cinco meses para os mais ricos. Este ano, nos dois primeiros meses os mais pobres tiveram a inflação mais alta, e nos últimos três meses foi a vez dos mais ricos pagarem a conta. Em maio, a inflação foi de 0% para os mais pobres, 0,06% para a classe média baixa e de 0,14% para a classe média. Para os mais pobres e para a classe intermediária, foi o menor índice do ano, enquanto que para os mais ricos o mês de fevereiro ainda foi melhor, com 0,12% de alta.
Segundo Cornélia Porto, o aumento do combustível afeta mais a classe média, que também não se beneficia da queda nos preços dos alimentos porque esse item não pesa muito no orçamento desse estrato. “O gás de cozinha, por exemplo, pesa mais para os mais pobres”, explica.
Para os próximos meses, as perspectivas não são ruins, mas também não animam. Para Cornélia, em julho o Páis deve ter reajustes de tarifas públicas, como eletricidade, telefonia e gás de cozinha. O transporte coletivo também poderá ter aumento, mas depende de negociação. Esses fatores devem influenciar a inflação nos próximos meses, sendo que o aumento da telefonia vai pesar mais para a classe média e o da eletricidade para os mais pobres”, analisa. “A classe média pode continuar pagando a conta, mas depende dos reajustes”.
Para junho, o Dieese espera alta de no máximo 0,20%, o dobro de maio. “São aumentos de itens de primeira necessidade”.
O reajuste das tarifas públicas também é mais um inibidor de consumo. “Não dá para abrir mão do bujão, da luz, do telefone. Então as famílias deixam de consumir outros produtos”, diz.
Priscilla Negrão