Traficantes vendem drogas no maior aeroporto do Brasil
A corrupção e o tráfico de drogas se infiltraram silenciosamente em um serviço considerado de alta segurança. Uma ação da Polícia Federal prendeu 26 pessoas, acusadas de criar um esquema de tráfico internacional de drogas no Aeroporto de Guarulhos, o maior do país. O esquema contava com gente de vários setores do aeroporto.
Os funcionários permitiam que malas cheias de droga entrassem no aeroporto por acessos não vigiados. A Polícia Federal desmontou na terça-feira, 10, uma quadrilha que agia no Aeroporto de Guarulhos depois de meses de investigação. Entre os envolvidos, além dos funcionários do aeroporto, havia também policiais civis e militares.
O estacionamento de um hotel vizinho ao Aeroporto Internacional de São Paulo é um dos pontos de entrega de cocaína para funcionários de empresas que prestam serviço em Cumbica. Malas recheadas de cocaína foram apreendidas ao longo de um ano e meio de investigação. Por mais de cinco anos, toneladas da droga foram embarcadas em voos internacionais sem nenhum impedimento e sem passar por nenhuma barreira de fiscalização.
A rede de tráfico despachava até 200 quilos de cocaína por semana sem que as bagagens seguissem os caminhos normais no aeroporto. Nada passava pelo saguão, pelo balcão das companhias aéreas ou pelos aparelhos de raio-X. As malas com droga percorriam uma rota paralela, pavimentada à base de corrupção.
Os portões laterais são de acesso restrito para veículos credenciados. Era gente autorizada a pisar no pátio de Cumbica que levava cocaína para dentro dos aviões. O esquema começou com despachantes que atuavam no setor de cargas.
“Os traficantes procuravam esses atravessadores, que eram as pessoas que possuíam esses contatos dentro do aeroporto e aliciavam os trabalhadores do aeroporto para fazer parte da organização criminosa”, afirmou o procurador Vicente Mandetta.
A investigação descobriu que traficantes corromperam empregados de sete empresas terceirizadas. Funcionários entravam com as malas de cocaína na pista, e carregadores rapidamente empurravam as bagagens para os aviões.
A policia conseguiu gravar uma sequência da operação ilegal. Nos fundos do aeroporto, do lado de fora, o traficante passa as malas com cocaína para um funcionário de Cumbica. As bagagens são colocadas na Kombi autorizada a entrar nas áreas restritas.
O empregado do tráfico parte, então, para dentro do aeroporto e estaciona no pátio das aeronaves. As malas são transferidas para containeres. Outros funcionários completam o serviço. A carga de cocaína é acomodada no compartimento de bagagens do avião.
A Polícia Federal entra em cena: atrasa a decolagem e retira todas as malas. Cães farejadores comprovam o crime de tráfico internacional, encontrando pacotes e mais pacotes de cocaína pura.
O destino das drogas embarcadas em Cumbica eram quatro países em dois continentes: África do Sul e, na Europa, Holanda, Portugal e Espanha. As três quadrilhas identificadas até agora eram chefiadas por nigerianos, por estudantes universitários brasileiros e por policiais de São Paulo – dois civis e uma soldado da Polícia Militar.
Com 30 traficantes presos, foram apreendidos carros, motos, imóveis e dinheiro vivo. A operação de terça-feira (10) foi para pegar a rede de colaboradores. Ao todo, 26 pessoas foram para a cadeia por ordem da Justiça Federal. Entre os presos, estão dois policiais civis acusados de extorsão.
A Justiça ainda determinou a prisão de uma auditora da Receita Federal, que integrava equipe de fiscais do terminal de cargas. Ela é acusada de facilitar a passagem de drogas. Também foi parar na carceragem da Policia Federal um funcionário da Infraero, que trabalhava na sala de câmeras do aeroporto. Ele era pago por traficantes para tirar da mira da vigilância eletrônica todas as malas recheadas de cocaína.
A Infraero, que administra os aeroportos, determinou a abertura de uma sindicância para apurar a acusação de que um empregado da empresa participava do esquema de tráfico. A Receita Federal informou que a funcionária presa já vinha sendo investigada internamente e que foi a própria Receita que alertou as autoridades.
A Secretaria de Segurança Pública declarou que a corregedoria pediu informações à Policia Federal sobre os investigadores detidos para que também possa abrir um procedimento interno de apuração. Desde o início das investigações, 56 pessoas foram presas.