Consumo interno será a salvação do mercado de trabalho no Brasil
Em meio aos efeitos da crise econômica que derrubou o ânimo do empresário brasileiro quanto à expectativa da atividade econômica neste primeiro trimestre, alguns setores sobrevivem bem – e até registram expansão. Produtos alimentícios, farmacêuticos e de vestuário e calçados deverão gerar novas vagas nos primeiros meses deste ano ou ao menos manter os atuais. “Esses segmentos estão ligados ao mercado interno, um dos principais motores da economia ao longo de 2008, e que continua com boas perspectivas”, afirma Aloisio Campelo, coordenador de Sondagens Conjunturais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Segundo Campelo, os segmentos de bens duráveis deverão sentir mais fortemente os efeitos negativos da crise, como os de automóveis e eletroeletrônicos. “Já o comércio e os serviços são menos vulneráveis à volatilidade econômica, daí ainda estarem confiantes em relação aos próximos meses”, diz. Outro fator deixa o comércio um pouco mais confortável, segundo Fábio Romão, economista da LCA Consultores: pelas novas regras, o salário mínimo terá um reajuste real – acima da inflação – de 5,4% neste ano, igual ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2007. “O setor será favorecido por esse crescimento real da renda”, afirma.
O presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah, também está otimista. O motivo, segundo ele, é o fato de a crise ainda não ter chegado ao comércio, como comprovam as vendas de Natal, que aumentaram 3,5% de acordo com levantamento preliminar da Associação Brasileira de Lojista de Shopping (Alshop). “Embora o crescimento tenha ficado abaixo da expectativa dos lojistas, é preciso lembrar que ele ocorreu em relação a 2007, que teve o melhor Natal dos últimos 20 anos. Assim, há motivos para acreditar que os empregos do setor serão mantidos”, diz Patah. Ele reconhece, entretanto, que a efetivação de temporários deverá ficar abaixo da média dos anos anteriores.
Ladeira abaixo – Outras atividades sofrerão redução no ritmo de produção e na geração de emprego. Segundo estudo da LCA Consultores, feito a partir de dados do Ministério do Trabalho, a crise financeira causará uma forte desaceleração na contratação formal neste primeiro trimestre, principalmente na indústria de transformação e na construção civil. “O mercado de trabalho responde com defasagem em momentos de crise e em períodos de crescimento. Daí a expectativa de a geração de emprego cair fortemente nos três primeiros meses do ano”, afirma Romão. A projeção é de serem geradas 213,5 mil vagas neste primeiro trimestre, muito abaixo das 554,4 mil de igual período de 2008.
Pelas projeções da empresa, os efeitos da crise serão sentidos de forma mais dura na construção civil. Nos últimos anos, o setor registrou crescimento recorde, principalmente quanto à formalização. Para 2009, entretanto, as projeções são de queda acentuada: de 99,7 mil novos postos no primeiro trimestre de 2008 para cerca de 2,5 mil em igual período deste ano.
O economista lembra, no entanto, que a queda ocorrerá em relação a uma base muito forte. “Enquanto a média de crescimento do emprego era de 7% até setembro de 2008, a construção civil tinha um ritmo de 17%. Por isso, acredito que a formalização ficará um pouco estagnada no segmento neste ano, podendo inclusive ocorrer demissões”, afirma.