A hora e a vez dos pequenos
Este deve ser o ano da inserção das pequenas e médias empresas brasileiras no mercado exportador mundial. “Mas isso só vai acontecer se houver um trabalho sério de incentivo com visão de longo prazo”, prevê Alfredo Cotait Neto, coordenador da São Paulo Chamber of Commerce, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
“É preciso que os pequenos e médios empreendedores considerem a exportação uma opção de longo e não de curto prazo”, acrescenta Cotait, também vice-presidente da ACSP. Para ele, não adianta exportar apenas para compensar as quedas no mercado interno: “isso não funciona mais”.
Cotait acredita que as viagens do presidente Luís Inácio Lula da Silva a vários países, em 2004, trouxeram bons dividendos para o comércio externo brasileiro. “Quem não aproveitar essa oportunidade agora poderá se arrepender no futuro”, afirma.
Apesar disso, ele alerta que falta um plano estratégico de inteligência comercial para mapear países em que produtos brasileiros de maior valor agregado poderiam estar presentes, mas ainda não estão.
Balanço
Para Alfredo Cotait, as exportações ajudaram o País a fechar suas contas e acelerar o crescimento interno no ano passado. Contudo, a participação do Brasil nas exportações mundiais não passa de 1%. “Ainda é muito pouco mesmo”, avalia. Segundo ele, é bom que as grandes empresas ampliem suas vendas externas, mas isso não garante um aumento da base exportadora, com reflexos no volume comercializado. “Isso só acontecerá com uma política de incentivo ao pequeno e médio produtor”, explica.
O vice-presidente da ACSP também ressalta que é preciso aumentar os resultados econômicos e não apenas os financeiros. Com o ingresso dos pequenos e médios no mercado externo, “teríamos um forte incremento do emprego e da renda no plano interno”. Para ele, 2005 pode ser o grande momento para o empreendedor tomar essa decisão, olhando sempre as exportações no longo prazo.
SP Chamber em ação
A São Paulo Chamber of Commerce já deflagrou várias ações nessa direção. Um exemplo é o ExportaSãoPaulo, programa em conjunto com a Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) – que reúne 410 entidades do interior paulista – e o governo de São Paulo. A iniciativa visa prospectar pequenas e médias empresas com perfil e capacidade exportadora.
Também é feito um trabalho de orientação e apoio na colocação de produtos no exterior, com o auxílio das comerciais exportadoras que participam do banco de dados da ACSP.
O esforço deve dar frutos em 2005. Cotait acredita que o cenário mundial está favorável aos produtos brasileiros. “Mas é preciso dar mais atenção a mercadorias de maior valor agregado, porque geram mais empregos internos”, enfatiza.
Para isso, é fundamental a formulação de estratégias de inteligência comercial. Mais uma vez, a SP Chamber entra em cena para receber e enviar missões comerciais aos países que não têm uma pauta comercial agressiva com o Brasil. É o caso do Leste Europeu, que abrigará uma comitiva que visitará a Polônia, Romênia e República Checa.
No programa receptivo de missões, relata Cotait Neto, há um acordo operacional com o governo de São Paulo, BM&F, Bovespa e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) para elaborar um menu capaz de dar eficiência às delegações que chegam a São Paulo. “Incluímos até roteiros de visitas a várias regiões produtoras do Estado”, esclarece.
Roteiros
São cinco os roteiros já definidos para impressionar as missões de empresários e investidores: São Paulo-ABC, São José dos Campos, Campinas, Piracicaba e Ribeirão Preto. Eles contemplam vários e sofisticados setores, como os de projetos de infra-estruturas, automobilístico, petroquímico, plásticos, institutos de pesquisa, combustíveis alternativos, máquinas e equipamentos, agro-indústria e usinas de álcool, além de uma visita à Embraer.
Além disso, Cotait antecipa que está em estudo uma parceria com o Itamaraty para a realização de um congresso com os responsáveis pelos Sescoms (Serviços de Promoção Comercial das Embaixadas). O objetivo será discutir formas de ajudar as empresas no comércio mundial. “Assim como as melhores formas de vender a marca Brasil lá fora”, relata.
Reformas
Para aumentar a base exportadora o governo precisa também fazer ajustes estruturais. Entre eles, Cotait destaca as reformas tributária, fiscal e trabalhista; investimentos em infra-estrutura (estradas, ferrovias, portos e aeroportos) e redução nas taxas de juros.
“Isso vai criar um quadro macroeconômico com as condições de produção semelhantes às oferecidas a nossos concorrentes lá fora”, esclarece. Por isso, as reformas são tão urgentes e dependem da vontade política do governo. “Mas ao que parece, o governo não está tão empenhado quanto deveria estar”, conclui.