Alta dos juros esfria ânimo para as vendas de final de ano
O Natal deste ano deve ser bom, com vendas superiores às de 2003, mas tinha tudo para ser bem melhor se o governo não tivesse tomado medidas para frear a atividade econômica. A alta da taxa básica de juros (Selic), de 16,25% para 16,75%, determinada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), foi um balde de água fria nas expectativas do varejo.
A segunda elevação seguida da taxa – no mês passado ela foi acrescida em 0,25% ponto percentual – deixa o consumidor ainda mais assustado, gera incertezas entre os empresários e pode levar à redução dos prazos de pagamento do crediário. As mudanças, certamente, devem afetar o desempenho das vendas de final de ano.
“Pode haver um grande problema, pois o comércio fez estoques pensando em um cenário mais otimista, com juros mais baixos”, alerta o diretor do Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o economista Marcel Solimeo. “Nesse caso, os comerciantes correm o risco de iniciar o ano com mais estoques do que esperavam”, acrescenta. Assim, 2005 já começaria com problemas pois, se sobram estoques no varejo, faltam encomendas na indústria.
Sem justificativa – Os efeitos negativos na economia parecem ainda maiores quando se busca o motivo que levou à elevação da Selic. Para Solimeo, nem os números da inflação nem o comportamento da demanda justificariam uma elevação de 0,50 ponto percentual dos juros básicos.
“Os índices de preços mostram a queda da inflação e, se olharmos os números de desempenho do varejo, percebemos que não há nenhuma explosão de consumo”, diz o economista.
“Agora todos aguardarão a divulgação da ata da reunião, na próxima semana, para saber o que levou o comitê a aprovar o aumento”, afirma Solimeo. Segundo ele, dependendo do tom do documento, o cenário pode ficar ainda mais nebuloso para o comércio.
Preocupação – A preocupação do economista é compartilhada pelo presidente do Sindicato dos Lojistas de São Paulo, Ruy Pedro de Moraes Nazarian. “Esse comportamento do Banco Central vai afetar negativamente todo o comércio e não só o setor de bens duráveis, cujas vendas são feitas geralmente a prazo.”
Isso acontece, segundo ele, porque os consumidores ficam temerosos com os rumos do País e com a sua própria situação econômica. Nazarian, inclusive, já reviu para baixo a estimativa de crescimento nas vendas deste Natal. “Antes acreditávamos em uma expansão entre 5% e 10%, mas agora talvez ela fique em 3%”, conta.
Otimismo – Mais otimista, o presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Nabil Sahyoun, acredita que o crescimento médio pode chegar a 15% no volume das vendas nas lojas de shopping. Mas ele lembra que parte dessa alta se deve à base fraca de comparação de 2003. “Para se ter uma idéia, o crescimento do ano passado sobre 2002 foi de apenas 1%”, diz Sahyon.
Ele ainda destaca que a expansão se deve a iniciativas dos varejistas, sem nenhuma contribuição do governo. “Estamos animados, mas nem um pouco eufóricos”, completa.
Contratações – A Alshop também faz uma estimativa positiva para a contratação de empregados temporários para este Natal nas lojas de shopping de todo o País. O número de vagas, segundo a entidade, pode chegar a 70 mil. Trata-se de um crescimento de 75% em relação ao número de postos criados em 2003.
Sahyon prevê ainda que 40% dos empregos temporários surgirão no estado de São Paulo. “O perfil dos contratados deverá seguir as características de cada loja. O certo é que o comércio busca cada vez mais profissionais inseridos no mundo do cliente”, conclui.