Acordos para ampliar a oferta de crédito
Bancos e associações de empresas anunciaram, nos últimos dias, novas linhas de crédito para micro e pequenas empresas. Estão sendo colocados no mercado produtos com taxas de juros mais baixas e com prazo mais longo para financiar investimentos sem destinação específica.
Há dois bons exemplos. O primeiro é o acordo assinado entre a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) com a Caixa Econômica Federal para a concessão, aos associados da Fiesp/Ciesp, de linhas de capital de giro em condições diferenciadas.
O segundo é o lançamento de uma linha de financiamento total de R$ 1 bilhão feito pelo Santander Banespa, com prazo de pagamento maior – de 36 meses – e utilização livre do dinheiro pela empresa.
Juros menores – No caso do convênio da Fiesp/Ciesp com a Caixa a vantagem está nas taxas de juros. Os beneficiados pelo acordo terão acesso ao desconto de duplicatas, por exemplo, com taxas a partir de 2,18%, contra 2,7% cobrados em operações convencionais.
Para antecipação de cheques pré-datados o juro é de 1,98%, diante dos 2,55% do mercado. “Conseguimos reduzir os juros devido à escala da operação. A Fiesp negocia em nome de 125 sindicatos e o Ciesp responde por 12 mil empresas”, afirma o gerente de mercado da CEF em São Paulo, Jair Luis Mahl.
Ele diz que a procura pelo novo produto nos últimos dez dias tem sido grande. Em condições semelhantes a Fiesp fechou um acordo, em abril, com a Nossa Caixa e com o Banco do Brasil.
Segundo o superintendente de produtos para Pessoa Jurídica do Santander, Luis Carlos Nogueira, também o novo produto do banco está tendo forte demanda. “Nas duas primeiras semanas de oferta, dois mil clientes se interessaram pela linha, o que é um número muito significativo”, disse.
Acesso – Para ter acesso ao novo financiamento do Santander o interessado terá de apresentar garantias reais (como duplicatas), avalista, ou assinar um contrato de liqüidação fiduciária. “Um dos aspectos interessantes do nosso produto é a liberdade para aplicação do recurso. O empréstimo não se destina necessariamente à compra de maquinário, geralmente dada como garantia. Pode ser usado para outros fins, como a ampliação do estoque, por exemplo”, diz Nogueira.
O coordenador de pesquisas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de São Paulo, Marco Aurélio Bedê, diz que iniciativas como essas são importantes para a ampliação da oferta de crédito. Porém, “ambas parecem ser dirigidas a públicos bem específicos. Buscam segmentar mercado. No caso da Caixa, o banco está trabalhando com indústrias associadas a uma entidade de peso e renome, que também é uma forma de garantia”, diz ele. “Só que essa é uma estratégia que trabalha um filão, que é a indústria, que costuma ter mais ativos para garantir os financiamentos. O setor tem uma participação pequena, de 13%, no total das micro e pequenas empresas, que na maioria atuam no comércio e serviços”, diz.
Prazo – Quanto à oferta do Santander, Bedê observa que ela também é uma novidade bem-vinda considerando-se a extensão do prazo para 36 meses no financiamento sem destinação específica. “Uma das principais demandas por crédito dos microempresários é por prazos maiores”, afirma.
No entanto, o economista e pesquisador diz que o patamar de juros dessa operação (de 2,5% a 3,5% ao mês) também “seleciona” uma parcela pequena das empresas, já que são poucas com condições de pagar esses juros.
Em sua opinião, as novas ofertas representam avanços importantes, mas ainda pontuais, que não atingem o núcleo da carência de crédito. Bedê coordenou uma pesquisa que ouviu 450 microempresários do comércio, da indústria e de serviços do Estado de São Paulo, divulgada em abril.
Espanto – A principal constatação do trabalho foi de que 61% dos entrevistados nunca tomou empréstimo comercial em bancos, “o que, a nosso ver, é um patamar muito elevado de exclusão”, diz. Outro dado da pesquisa mostra que boa parte dos pequenos empreendedores tem aversão a tomar crédito. Perguntados se tomariam empréstimo caso a operação fosse fácil e barata, 49% disseram que não.
Um dos caminhos potenciais para acelerar a ampliação da oferta de crédito é difundir a idéia dos convênios entre agentes financeiros e empresas reunidas em associações de classe, consenso entre os agentes que atuam nesse mercado.
A iniciativa da Fiesp junto à Caixa Econômica, à Nossa Caixa e ao Banco do Brasil pode indicar uma tendência – e a primeira de uma série. A Caixa não confirma novos acordos, mas não nega a existência de negociações em curso. Já o Sebrae-SP informa que está conversando com o sistema financeiro. “A possibilidade de convênio é muito boa. Estamos negociando com a Caixa para um acordo nos moldes do feito pela Fiesp”, diz Fábio Campos, gerente de apoio a financiamento do Sebrae-SP.
Campos reforça a idéia de que a microempresa deve se unir para se fortalecer nas negociações com os bancos. Ele diz que o acordo entre o Sebrae e a Caixa pode ser vantajoso para o banco já que a entidade indicaria empresários com capacitação técnica – fornecida pelo Sebrae -, traduzida em menor risco para a operação.
Ricardo Kauffman