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Governo vai estimular o crédito

Guarulhos, 05 de janeiro de 2004

As reformas macroeconômicas deverão sair de cena neste ano para dar lugar à agenda microeconômica. O objetivo é fazer com que o crescimento econômico seja sustentável a partir de 2005, ou seja, evitar o chamado “vôo da galinha”, como aconteceu no passado.

Para isso, a equipe econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva quer adotar medidas que estimulem a concessão de crédito, reduzam o spread bancário (diferença entre a taxa que as instituições financeiras pagam para captar recursos e a que ela cobra de seu cliente da hora de conceder o empréstimo) e também que desonerem a folha de pagamento para facilitar a criação de empregos com registro em carteira.

– O crescimento em 2004 é conseqüência natural do ordenamento. O Brasil começa a crescer. Isso acontece naturalmente e o governo tem de trabalhar para fazer com que esta tendência seja potencializada – afirmou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Para garantir o crescimento sustentável, o governo quer agilizar a tramitação no Congresso Nacional da Lei de Falências, da Cédula de Crédito Bancário e da Central de Risco.

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, explicou que a aprovação da Medida Provisória que trata da Cédula de Crédito Bancário contribuirá para a queda do spread bancário.

Dentre alguns compromissos do governo que constam no novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) estão a implementação da Lei da Falências por meio de programas de treinamento e a liberação do cadastro positivo (banco de dados com informações sobre o perfil de crédito dos clientes) até o mês de junho. A proposta é que o cadastro possa ser utilizado por bancos e outras instituições de crédito.

O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, ressaltou que o baixo crescimento econômico em 2003 foi o custo pago para colocar a economia brasileira em ordem, conquistando a confiança perdida e trazendo a inflação para as metas estabelecidas pelo governo. Agora é preciso se dedicar a agenda micro para que este crescimento seja consistente e sólido nos próximos anos.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, afirmou que a manutenção do crescimento econômico nos próximos anos tem que ser dada por ações do governo por meio de programas setoriais, como o Modercarga (de modernização da frota de caminhões, parte da política industrial).

Segundo ele, não é possível com uma “varinha mágica” recompor em 2004 a renda do trabalhador perdida durante cinco anos. Para Furlan, o mercado interno terá uma retomada gradual.

Com o consenso entre a equipe econômica e economistas de que o crescimento virá neste ano, a discussão, muito presente no governo passado e no início deste, a discussão entre monetaristas e desenvolvimentistas acabou sendo atropelada.

Para o economista Roberto Padovani, da consultoria Tendências, o importante agora é saber qual a capacidade de crescimento do país e durante quanto tempo. A Tendências prevê um crescimento econômico de 4% neste ano.

– Não dá para imaginar um crescimento sem estabilidade monetária – afirmou Roberto Padovani.

Segundo o economista, o desafio do BC será monitorar o crescimento econômico com a estabilidade de preços. Será preciso saber quais instrumentos utilizar para que ocorra crescimento sem pressionar a inflação, as contas externas e, ao mesmo tempo, tornar possível o aumento da produtividade da economia.

– Vai ter que avançar na agenda microeconômica – recomendou o economista.

Edna Simão