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Empresário brasileiro é o campeão do jogo de cintura

Guarulhos, 02 de maio de 2002

A economia brasileira tem muito jogo de cintura: a flexibilidade e a adaptação do empresário brasileiro para enfrentar novos desafios é maior do que todas as outras 48 nações mais competitivas do planeta.

A constatação é do Anuário da Competitividade Mundial 2002, publicado ontem na Suíça, com base em pesquisa com empresários internacionais. O relatório preparado pela Escola de Administração de Lausanne (IMD), uma das mais reputadas da Europa, coloca a competitividade da economia brasileira no 35º lugar entre 49, perdendo quatro pontos e voltando aos níveis de cinco anos atrás.

O ranking continua dominado pelos Estados Unidos, seguido desta vez por Finlândia e Luxemburgo. Cingapura (5), Hong Cong (9) e Irlanda (10) perdem três pontos cada, pagando o preço de sua dependência tanto do mercado americano como das exportações de alta tecnologia. Já a Holanda (4), Suíça (7) e Áustria (13) se beneficiam de sua estabilidade num ambiente econômico turbulento. A Alemanha (15), a maior economia da Europa, perde vitalidade.

Stephane Garelli, diretor da publicação, se declara “decepcionado” com o resultado do Brasil porque “não reflete o trabalho profundo de reformas feito no País”. Mas se mostra entusiasmado com a percepção da comunidade internacional sobre os brasileiros.

“Os empresários brasileiros sempre souberam enfrentar situações difíceis e voláteis. Sabem trabalhar em qualquer sistema, o que é ótimo quando se tornam internacionais e enfrentam ambientes nem sempre amigável. Assim, tem mais chances de oportunidades de negócios”, afirma, dando como exemplo sucesso da Embraer.

Carlos Arruda, coordenador do estudo feito pela Fundação Dom Cabral, parceira brasileira do IMD, ressalta que além da capacidade do executivo brasileiro em adaptar-se à situação de mudança e empreender novas idéias e novos negócios, outro ponto positivo foi a variação do crescimento percentual das exportações de mercadorias e serviços, que saltou de 9,9% em 2000 para 26,4% no ano passado, o que puxou o Brasil do 37 para o 2 lugar nas exportações gerais.

Arruda disse ainda que o Brasil tem sempre se destacado na variável de práticas gerenciais, um sub-fator do bloco que mede a eficiência dos negócios. Neste ano o Brasil ficou em 19 lugar.

O Anuário constata que o desempenho econômico do Brasil caiu de 31 para 35. A eficiência governamental diminuiu (36 para 38), também a eficiência empresarial (28 para 33) e os problemas de infra-estrutura tampouco melhoraram (de 31 para 37).

Sua competitividade é afetada por problemas do sistema de ensino (o pior entre os 49) e saúde, altas taxas de juros (48), produtividade baixa (42), insuficiência de trabalhadores qualificados (37), violência (45), pesquisa básica modesta para ajudar o desenvolvimento a longo prazo (39).

Arruda diz que o ponto negativo mais crítico para o País é a baixa classificação na educação e na infra-estrutura tecnológica e científica. “O analfabetismo brasileiro está em 45 lugar e a educação secundária em último lugar entre as 49 nações pesquisadas”, diz.

“Não é mais a vez dos manufaturados no mundo e sim dos produtos com maior base tecnológica e científica. Ter baixa classificação nesses itens significa um altíssimo risco na competição do futuro. A Finlândia cresceu na classificação geral porque investiu justamente nesses dois itens, além da educação”, continua Arruda.

O Chile, afirma Arruda, que saiu de 24 posição no ano passado para 20 neste ano pela maior eficiência governamental, inflação estável e uma boa inserção mundial, convive, ao mesmo tempo com o risco de não ter um crescimento sustentável no longo prazo. Isto porque centros tecnológicos e científicos estão deixando o país, daí a sua pauta de exportações ser basicamente de produtos primários.

O Anuário, contudo, salienta o potencial que o Brasil tem para afrontar a concorrência externa: além de um povo flexível e preparado a desafios, tem atitude geralmente positiva em relação a globalização, disponibilidade de administradores competentes (5 entre os 49), custo de vida (6 mais barato entre os 49), taxação sobre as empresas (6), efetiva taxa sobre a renda (15), marketing bem conduzido pelas empresas (8).

De 314 critérios para medir a competitividade, a flexibilidade e a adaptação são os únicos em que o Brasil chega em primeiro lugar, a frente dos empresários dos EUA, Islândia, Nova Zelândia e Irlanda. No pé da lista estão Polônia, França, Alemanha e Japão.

Garelli não tem dúvida de que esta qualidade da comunidade empresarial brasileira será uma vantagem competitiva importante para o Brasil. “Os chefes de empresas habituadas a economias bem estruturadas, regras bem definidas, têm mais dificuldades a operar num ambiente de globalização marcado pela vulnerabilidade”, diz.

Isso é ainda mais importante, porque em 2002 o ambiente da competitividade mundial se distinguirá por dois fatores: nervosismo e imprevisibilidade. “As empresas devem aprender a viver mais expostas e menos protegidas”. Haverá uma sucessão rápida de notícias boas e ruins, afetando de maneira desigual a competitividade dos países. Os mercados procuram desesperadamente um desempenho melhor depois do “annus horribilis” de 2001 quando US$ 5 trilhões de capitalização na bolsa se evaporaram.

Além disso, a comunidade empresarial não tem mais confiança nos números. Muita renda foi manipulada para a alta e dívidas escondidas, sobretudo na época da nova economia, por meio de métodos contábeis pouco ortodoxos. O desmoronamento da Enron e da Anderson agravaram o sentimento de insegurança.

Para Garelli, os Estados Unidos continuarão a ser a nação mais competitiva graças aos maciços investimentos na infra-estrutura tecnológica, mas também a extraordinária capacidade de atrair os melhores talentos do resto do mundo. “Hoje não é mais questão de atrair apenas investimentos, mas também talentos e os Estados Unidos se beneficiam disso”.