Título da dívida do País é menos recomendado
Dois bancos de investimentos estrangeiros – Morgan Stanley Dean Witter e Merrill Lynch – reviram suas recomendações para compra de títulos da dívida externa brasileira. Mas as decisões pouco afetaram os mercados domésticos, repercutindo muito mais no Exterior. O Morgan Stanley baixou sua recomendação para a dívida brasileira para o desempenho de mercado(market perform) citando também como um dos principais motivos os riscos maiores de vitória do candidato do PT, à eleição presidencial, Luís Inácio Lula da Silva. No flanco eleitoral, a pesquisa CNT/Sensus mostrou crescimento da candidatura Lula, e queda de todos os demais. A reação do mercado só não foi intempestiva porque Anthony Garotinho, do PSB, continuou em terceiro, ainda que empatado tecnicamente com o tucano José Serra.
Estabilidade – A agência de classificação de risco Moody's, por sua vez, reiterou que a perspectiva para o País se mantém estável e que não teme o processo eleitoral brasileiro. Também a Standard & Poor's mostrou tranquilidade em relação ao eventual resultado das eleições. Ambas as agências enfatizaram que não têm os mesmos critérios que os bancos para a classificação de países. O estrategista-sênior de renda fixa para mercados emergentes da Merrill Lynch, Felipe Illanes, disse que o rebaixamento da recomendação dos títulos para market weightfoi motivado por três fatores.
Fluxo menor – O primeiro é a perspectiva de redução de fluxo de capital para o mercado de dívida de países emergentes. “Nas próximas semanas, a conjuntura externa não será favorável em termos de apetite de risco dos investidores, o que vai provocar impacto nos ativos de renda fixa de países emergentes, e os do Brasil em particular”, afirmou Illanes. Outro motivo, explicou o estrategista, é o preço ainda alto do petróleo. “Isso deverá limitar ainda mais a perspectiva de redução do juro.” O terceiro fator é que, no curtíssimo prazo e em especial esta semana, haverá poucos motivos de alívio do mercado, em relação aos resultados das pesquisas. “Teremos poucas chances de ver uma reversão nos resultados das pesquisas eleitorais que venham a ser bem-aceitos pelo mercado. Ou seja, não deveremos ver esta semana os resultados de pesquisas que agradem ao mercado em termos de ver o candidato do governo mais competitivo na corrida presidencial. No curto prazo, não vemos o candidato do governo crescendo nas pesquisas”, afirmou Illanes.
Já esperado – Ele ressaltou que, embora os resultados das pesquisas nesta semana talvez não agradem o mercado, podem ficar dentro do esperado. “Há uma expectativa de bom desempenho de Lula nas pesquisas desta semana em razão de ele ter maior tempo de televisão”, comentou. Na opinião do estrategista da Merrill Lynch, uma reversão para um novo potencial de alta nos títulos da dívida brasileira no médio prazo vai depender da melhora em duas frentes:
1) retomada sustentável nos cortes da taxa Selic. Para isso seria importante ocorrer queda nos preços do petróleo no Exterior, o que pode possibilitar redução no preço da gasolina no País e, por sua vez, menor pressão sobre a inflação;
2) diminuição na distância entre Lula e Serra nas pesquisas de opinião. Neste caso, ressaltou Illanes, uma eventual queda nos preços da gasolina poderia melhorar a popularidade do presidente Fernando Henrique, e influenciar positivamente a candidatura de Serra.
(MM/AE/Reuters)