O lado mau do SPB
Quem aplicou em fundos de investimento por meio de Documentos de Ordem de Crédito (DOC) ou cheques desde a implementação do Sistema Pagamentos Brasileiro (SPB) deverá perder um dia de rentabilidade da aplicação. Antes do novo sistema, o investidor fazia o pedido para a operação e passava um cheque ou DOC referente àquele mesmo valor para o banco. Apesar de o cheque ou DOC ser compensado apenas no dia seguinte à ordem, a instituição financeira recorria a uma conta de reservas da sua tesouraria (ou da gestora dos seus fundos de investimento), tomava dinheiro emprestado e realizava a aplicação no mesmo dia em que ela era requisitada.
Isso era o que se chamava de um investimento D+0. O banco, neste caso, comprava as cotas demandadas pelo investidor e assumia o risco de o cheque voltar. Com a chegada do SPB, os bancos não poderão mais realizar este tipo de operação e essa tomada de recursos da conta de reservas passará a ter um custo equivalente ao valor do CDI, de 0,067%. Desta maneira, os investimentos que eram feitos em D+0 passarão a ser feitos em D+1. Já os que eram feitos em D+1, passarão a ser feitos em D+2 e assim por diante.
A mudança vai afetar também quem já é cotista de fundos. Os bancos fazem movimentações diárias em suas carteiras de investimentos, vendendo e comprando ativos. Da mesma maneira, utilizam os recursos da conta de reservas (cujo custo é o do CDI). A tendência é de que esses custos sejam repassados para os seus clientes, o que poderá comprometer de meio a um dia da rentabilidade da aplicação.
– Na prática, a perda é de um dia, tanto para quem entra em um novo investimento quanto para quem já tem seu dinheiro aplicado em um fundo – observa o consultor Július Buchenrode, sócio da JHD Consultoria.
O especialista, que também já foi diretor da ANBID, lembra que os bancos costumam realizar operações de compra e venda de títulos públicos, câmbio ou qualquer outro ativo sempre em valores superiores a R$ 5 milhões.
– Por mais que alguns investidores apliquem quantias bem menores que este montante, os bancos operam grandes valores. É esse o custo que tenderá a ser dividido entre todos os cotistas.
Alguns bancos, porém, não vão descontar essa diferença na rentabilidade de seus cotistas.
Cleide Carvalho e Juliana Rangel