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O Leão não é o vilão

Guarulhos, 15 de abril de 2002

Engana-se quem pensa que o Imposto de Renda é um dos tributos que mais pesam sobre o bolso da classe média brasileira. Na verdade, são os impostos invisíveis, aqueles que estão por trás do preço de produtos como a cerveja, que provocam o maior estrago no orçamento doméstico. Pesquisa feita pela PricewatherhouseCoopers, com base em dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), revela que uma família com renda bruta mensal de R$ 3.300 gasta até 30% do que ganha com impostos, ou R$ 990 por mês. Desse total, 58% são direcionados aos tributos embutidos nos preços de produtos e serviços, ou seja, R$ 574,20.

O levantamento, feito com base no consumo de uma família em que o homem e a mulher trabalham, mostra que o Leão abocanha somente 4% dos impostos pagos, ou R$ 39,60. Já a previdência oficial leva a segunda maior parcela de ganhos: 33%, ou R$ 326,70. Os impostos sobre o patrimônio, IPVA e IPTU, representam 5% de todos os tributos pagos, ou R$ 49,50.

– É extremamente prejudicial essa carga. Os tributos penalizam mais fortemente o consumo. Encarecem o produto, desestimulam a produção, o investimento e o emprego e acabam impedindo o crescimento da economia – explica o coordenador da pesquisa e sócio-diretor da PricewatherhouseCoopers, Alvaro Taiar.

Reforma urgente – Para Taiar, a análise confirma a urgência de uma reformulação no sistema tributário brasileiro. Dos tributos e tarifas, o maior peso individual para a família pesquisada é a contribuição ao INSS descontada no contracheque, que representa 9,87% de sua renda. Em seguida vem o ICMS (9,01%), que incide sobre a circulação de mercadorias e serviços, e o Cofins (4,11%), que incide sobre o faturamento bruto das empresas. Os dois são cobrados nos produtos e serviços consumidos.

Ainda figuram na sopa de letrinhas o IPI, o ISS, o PIS e a CPMF. E alguns deles são cumulativos, ou seja, incidem mais de uma vez sobre o preço do que é adquirido, tirando a competitividade dos produtos brasileiros em relação a seus concorrentes produzidos no exterior. Mesmo os produtos básicos, como o arroz e o feijão, têm 15% de impostos embutidos. O sabão em pó tem 35%, a cerveja, 70%, e o cigarro, o campeão dos impostos, 86%.

Quando se gastam R$ 10 em carne, R$ 2 são só de impostos. Não fosse pelo tributo, a família analisada, por exemplo, poderia comprar 2,4kg de alcatra (400g a mais do que o adquirido com a inclusão do imposto).

– Trata-se de uma injustiça, pois os impostos não são, nem mesmo, diferenciados, como no caso da alíquota do Imposto de Renda. Cobra-se o mesmo da classe média, do rico e do pobre. Todo mundo sabe quanto paga de imposto no contracheque, mas na hora de pagar a conta no supermercado, ninguém fica sabendo – diz Taiar.

Entre os grupos pesquisados pela Pricewaterhouse, é no de despesas diversas, no qual estão inseridos produtos como cigarro e bebidas alcoólicas, que mais se gasta com impostos: 56,30%. Em seguida estão os grupos material de limpeza (31,89%) e artigos para conservação e reparo (29,56%).