Notícias

Fundos de renda fixa voltam a ser indicados

Guarulhos, 25 de março de 2002

A decisão do Banco Central de reduzir a taxa básica de juros, a Selic, em apenas 0,25 ponto porcentual pode servir de aviso ao investidor: a atual política de juros do governo continua favorecendo as aplicações em renda fixa prefixadas, aquelas nas quais o investidor sabe, de antemão, de quanto será seu ganho enquanto o dinheiro estiver aplicado. Essas aplicações investem em títulos públicos, que por sua vez são remunerados pela Selic. Apenas no mês de março, até o dia 20, os fundos de renda fixa renderam 0,82%. À primeira vista pode parecer um ganho modesto. Mas colocado ao lado do de outras aplicações, é significativo. Os fundos cambiais, que têm a carteira remunerada pela variação do dólar mais uma taxa de juros, tiveram uma perda de 0,70% no mesmo período.

Os fundos de ações, atrelados ao Ibovespa – o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo que mede a valorização dos papéis mais negociados -, recuaram 0,31% neste mês, também até a última quarta-feira, segundo dados da Thomson Financial Brasil, empresa especializada em análise de fundos de investimento (confira no quadro).

Atenção – Quem aplicar agora, portanto, terá seu ganho fixado pela taxa atual de 18,5%, que é alta. Se o governo mantiver a tendência de queda gradual dos juros, sinalizada pelo Banco Central nas últimas reuniões do Copom, as chances de o investidor lucrar com esse tipo de aplicação são grandes. Faça as contas: o investidor vai aplicar a uma taxa de 18,5%. É por esse porcentual que sua aplicação estará sendo remunerada. Se nos próximos meses a Selic chegar, por exemplo, a 17%, o investidor já terá ganho por conta dessa diferença. O mercado aposta que reduções mais significativas deverão começar a aparecer apenas a partir do segundo semestre. É certo que o risco Brasil apresentou uma melhora, a Argentina deixou de ser vista como um risco para o Brasil e a inflação vem dando sinais de que está sob controle. Mas o governo ainda está atento. O último índice de inflação apurado continua encostado no teto fixado pelo governo, explica Eduardo Mafra, gerente de investimentos do J.P. Morgan.

Reduções graduais – Isso, segundo Mafra, é suficiente para que o Banco Central evite posições mais agressivas e continue fazendo pequenos cortes na Selic ainda durante os próximos meses. Todo mundo sabe que juros mais altos acabam, de certa maneira, inibindo o consumo, porque fica mais caro para o consumidor comprar a prazo. Juros mais elevados também tornam as aplicações em renda fixa mais atraentes para o consumidor, além de incentivá-lo a poupar. Com um consumo mais retraído, o governo consegue segurar mais a inflação e assim atingir sua meta. Por isso, explicam analistas, o Copom vem se mantendo conservador na hora de baixar os juros. “Não estamos livres por completo do risco de a inflação aumentar”, diz o analista do J.P. Morgan. No nível atual em que a inflação está, qualquer susto do mercado será suficiente para reverter o quadro de estabilidade que a inflação vive hoje.

Bom momento – Diante desse cenário, o diretor da BMG Asset Management, Bruno Amadei Jr. reforça a indicação pela renda fixa prefixada neste momento. Segundo ele, pode ser vantajoso para o investidor começar a migrar uma parte maior do dinheiro para essas aplicações. Especialmente se tiver um perfil mais conservador, avesso ao risco. Para Amadei, o Banco Central já desenhou um cenário de redução dos juros para os próximos meses. “Mas isso deverá acontecer de forma mais lenta do que o mercado imaginou, levando-se em conta o resultado das últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom)”, lembra. Por isso até lá o investidor deve aproveitar para ganhar.

Ganho real – Quem ficou aplicado em renda fixa em 2002 já conseguiu um ganho real (descontada a inflação) de 15,61% só neste ano, até a última quarta-feira, dia 20. Os fundos DI, que também investem em títulos públicos de renda fixa, registraram alta de 16,02%, de acordo com estudo da Thomson Financial Brasil. Em contrapartida, os fundos de ações, em igual espaço de tempo, acumulam uma perda de 4,57%. Os fundos cambiais se destacam no período com ganho de 25,33%. As aplicações em renda fixa estão entre as mais seguras do mercado.

Roseli Lopes