As vendas do comércio varejista em março caíram 11,31% ante igual mês do ano passado, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. O resultado é o maior percentual de queda do setor ao longo de toda a série de resultados da Pesquisa Mensal de Comércio, PMC, que começou em janeiro de 2000.
Segundo o IBGE, o desempenho deste mês foi bastante influenciado pelo “efeito calendário”, visto que o Carnaval este ano caiu em março, diminuindo o número de dias úteis do mês em 2003, em relação a março de 2002.
Mesmo considerando esse efeito, o instituto esperava um resultado melhor. O economista Nilo Lopes, responsável pela pesquisa de comércio, afirmou que o IBGE previa um recuo de cerca de 6% no volume de vendas. “Tudo indicava que o resultado seria negativo por causa do efeito calendário, mas esperávamos um número melhor”, ressaltou.
Para Lopes, o desempenho ruim é originado de um longo processo de cenário negativo, afetado por juros altos, achatamento de renda e inflação alta. “Isso vem causando recuo na demanda há meses”, disse.
Primeiro passo – Apesar do desempenho ruim em março, Lopes acredita que as perspectivas são positivas para o setor de comércio. Ele lembrou que a economia já mostra sinais positivos, como a valorização do real perante o dólar e a desaceleração em vários índices de inflação.
“O primeiro passo para a retomada do crescimento do setor de comércio seria a redução na taxa básica de juros”, disse, lembrando que a taxa, a Selic, está em 26,5% ao ano, nível que ele considera muito alto e prejudicial para as vendas do comércio varejista.
O técnico do IBGE alertou que fatores como queda no desemprego e aumento de renda são processos “de longo prazo”. Na avaliação de Lopes, a retomada das vendas pode ocorrer no início do segundo semestre deste ano – mas somente se o governo decidir reduzir os juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, Copom, programada para a próxima semana.
A pesquisa do IBGE mostra ainda que os resultados acumulados também são negativos: as vendas no comércio caíram 5,98% no primeiro trimestre do ano, ante igual intervalo no ano passado, e tiveram queda de 1,92% no período de 12 meses.
Piora generalizada – O instituto também informou que o resultado ruim de março foi generalizado: atingiu todas as regiões pesquisadas e também todas as atividades comerciais.
Por setores, o principal impacto negativo no desempenho do varejo coube mais uma vez ao segmento de supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com redução no volume de vendas de 13,06% em comparação com março de 2002. Na seqüência, apareceu o item de artigos de uso pessoal e doméstico (-8,98%), seguido por móveis e eletrodomésticos (-16,31%); combustíveis (-7,98%); e vestuário e calçados (-5,37%).
Por regiões, as reduções com maior influência na formação da taxa geral se verificaram em São Paulo (baixa de 10,79%); Rio de Janeiro (-14,55%); Minas Gerais (-11,83%); Rio Grande do Sul (-10,22%); e Bahia (-14,23%).
Receitas crescem – Embora o IBGE tenha registrado queda no volume de vendas do comércio varejista no País, a receita nominal de vendas do setor manteve-se positiva no mês. Em março deste ano, a receita do setor subiu 9,28% ante março de 2002.
Os resultados acumulados também são positivos: a receita acumulada no primeiro trimestre subiu 14,23% ante igual período.