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Vendas crescem e indicam tendência de recuperação

A recuperação no ritmo de atividade esperada para o segundo semestre deste ano já está sendo detectada em vários segmentos da economia. O ritmo de vendas no comércio na primeira quinzena deste mês pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), por exemplo, mostra que a média das vendas à vista e a prazo no varejo está no mesmo nível de março do ano passado, quando havia um forte ritmo de crescimento econômico no País.

O volume de crédito captado pelas empresas e consumidores parou de cair em janeiro ante o mesmo mês de 2001, segundo dados do Banco Central, o que pode indicar a ocorrência de um crescimento marginal nas nos empréstimos. Os juros no mercado futuro, um indicador de tendência para a atividade da economia, mostram que a expectativa é de queda dos encargos financeiros.

Amanhã, o Comitê de Política Monetária do Banco Central deve confirmar essa expectativa do mercado e reduzir o juro básico da economia (a taxa Selic) em até meio ponto porcentual. A taxa, neste caso, cairia de 18,75% ao ano para 18,25%.

“Está havendo uma antecipação da recuperação esperada para meados do segundo semestre e esse movimento vem desde o fim do ano passado”, afirma o diretor do banco Inter American Express, Marcelo Allain. Ele aponta três fatores básicos para a aceleração da atividade econômica. Um deles foi a antecipação do fim do racionamento de energia elétrica. O outro foi o fato de o Brasil ter se descolado da Argentina. “Mas o fator decisivo foi a recuperação antecipada da economia americana.”

Para o economista da MCM Celso Toledo, os indicadores mostram ainda uma economia deprimida, mas com trajetória é de recuperação. Assim como Allain, ele descarta a possibilidade de um crescimento frenético no ritmo de atividade, mas pondera que o pior já passou. “Os horizontes estão menos nebulosos e o ambiente econômico, mais previsível.”

Dados da ACSP mostram que entre 1.º e 15 de março o volume de consultas para vendas a prazo caiu 4,5% ante o mesmo período do ano passado. Na mesma quinzena, o volume de consultas para vendas à vista cresceu 4%. Na média, os dois indicadores indicam um empate ante março de 2001. “É um resultado bom, levando em conta que no ano passado, nesta época as vendas estavam muito aquecidas. Temos uma base de comparação muito forte,” diz o presidente da Associação Comercial, Alencar Burti.

A economista da Tendências Consultoria Integrada, Zeina Latif, calcula que, descontados os efeitos sazonais, as consultas para vendas a prazo volltaram para o para o nível de março de 2001, anterior ao ajuste provocado pelo racionamento. Nos últimos quatro meses, observa, o crescimento médio dessas vendas tem sido de 4% ao mês, uma taxa bastante significativa.

Riscos – Apesar de vários indicadores apontarem para uma recuperação antecipada e consistente da produção e das vendas, existem riscos que podem afetar esse movimento. Toledo aponta, por exemplo, o ritmo de recuperação da economia mundial, que tem desdobramento imediatos na América Latina. Existe ainda o quadro político doméstico, mesmo com o avanço da candidatura governista. Além disso, ele alerta, ninguém sabe ao certo o impacto do câmbio nas importações. Elas recuaram no ano passado quando câmbio disparou. Agora, com o real mais valorizado e o ritmo de atividade em recuperação, esse seria um fator de risco para o equilíbrio das contas externas.

Para Allain, a sustenção da retomada da atividade econômica depende da queda do desemprego e da recomposição do salário real. O crédito mais barato é outro fator decisivo para que a atividade deslanche, acrescenta. Toledo diz que, do ponto de vista macroeconômico, o crédito vem antes da recuperação do emprego e do salário. Isto é, quando os empréstimos se expandem, o consumo cresce, a produção aumenta e, a partir daí, os empresários contratam mais e ampliam os salários.

Vera Dantas e Márcia De Chiara

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