Puxado pelas grandes liquidações, o comércio teve bons resultados nas vendas de janeiro. A dúvida, agora, é o que poderá ocorrer daqui para frente. De acordo com a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) – que mede as vendas a prazo – teve um aumento de 6,8% sobre 2004. O Usecheque – relativo a negócios a vista -, por sua vez, registrou alta de 6,1%.
Segundo o presidente da ACSP, Guilherme Afif Domingos, o setor varejista fez um grande esforço no mês passado, comprometendo até mesmo a margem de lucro, para acabar com os estoques encalhados, principalmente de bens duráveis. Em dezembro passado, as vendas por crediário tiveram alta de 3%, metade da média registrada ao longo do ano de 2004.
Expectativa – Para os próximos meses de 2005, a expectativa de vendas é incerta. O economista do Instituto Gastão Vidigal, Emílio Alfieri, trabalha com dois cenários para estimar como será o ano para o comércio. No primeiro deles, mais otimista, a taxa básica de juros (Selic) aumentaria mais um pouco e chegaria a 18,8%. Desse modo, diz Alfieri, as vendas poderiam se manter em um patamar de expansão entre 5% e 5,5%. “Seria um crescimento sustentável porque 2004 foi bom para a economia.”
Nessa projeção, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro alcançaria alta de 3,5% ou 4%, o que pode ser considerado bastante satisfatório. “Nas duas últimas décadas, o nosso PIB cresceu menos de 2%”, afirma Alfieri. Em outros países emergentes, como Egito, Coréia e Taiwan, o PIB passou de 6% nos últimos anos. Na China, ele chegou a 9%.
Pessimismo – Já no cenário mais pessimista apontado pelo economista, o Comitê de Política Monetária (Copom) subiria muito a Selic, até cerca de 24%, para que o governo conseguisse manter a inflação dentro da meta, em 5,1%. “Os analistas de mercado consideram, hoje, que a inflação em 2005 fecharia em 5,7%. Mas o Banco Central insiste em dizer que deve ficar em 5,1%. Para isso acontecer, os juros teriam que subir na mesma proporção e alcançariam, na pior das hipóteses, os 24 pontos”, explica Alfieri.
Esse cenário seria desastroso para economia nacional. O presidente da ACSP também afirma que a Selic elevada diminui o consumo, o que causa reflexos na produção industrial, no emprego e na renda. “A incerteza com os juros diminui os prazos no crediário. Isso, combinado com o aumento nas taxas, provocará crescimento do valor das prestações e menor expansão do crediário”, acredita Guilherme Afif Domingos.
As vendas a vista não são consideradas tão relacionadas à inflação porque são de menor valor e sofrem influências do clima, emprego e liquidações. “Roupas e calçados vendem se o inverno é mais rigoroso, ou se a pessoa conseguiu um emprego. Agora o crediário é o termômetro para o crescimento da economia”, explica o economista Alfieri.
Inadimplência – Em janeiro, a inadimplência na cidade de São Paulo se manteve estável. A ACSP recebeu 321.619 registros, 3,5% a mais que no mesmo período de 2004. No entanto, os registros cancelados chegaram a 250.193, crescimento de 4,6% sobre o ano passado. “Deu elas por elas, está estabilizado”, diz Alfieri.
Entretanto, o economista está reticente em relação aos próximos meses. Para ele, as liquidações de janeiro, com prazo para início de pagamento daqui a dois ou três meses, podem causar um boom da inadimplência em março. “As pessoas compram e esquecem que têm que pagar impostos e outras contas, quando chega março, elas ficam desesperadas, pois não lembravam das prestações e a inadimplência cresce”, diz Alfieri.
Fernanda Pressinott