União Européria volta a negociar com Mercosul
Após um final de semana de comemorações pela quinta e maior ampliação de sua história, com a adesão de dez países do Leste europeu – oito deles ex-integrantes do bloco comunista – a União Européia (UE), agora com 25 países-membros, já está de volta à mesa de negociações para mais uma tentativa de costura do acordo comercial bilateral com o Mercado Comum do Sul (Mercosul).
Desta segunda-feira, 03, até o dia 7, em Bruxelas, Bélgica, representantes dos países do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e dos principais setores nacionais interessados no acordo, como agricultura, pecuária e indústria automobilística, irão buscar propostas mais ousadas do agora maior bloco econômico do mundo, no que se refere à abertura de mercados para uma série de produtos.
A melhor oferta – Durante toda a semana passada, o Comissário Europeu para Assuntos de Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pesca, Franz Fischler, esteve no Brasil para reuniões, visitas de cortesia e um seminário sobre a parceria União Européia-Mercosul. Mas nada mudou com os encontros, pois nenhum dos lados foi capaz de colocar na mesa propostas concretas que agradassem ao oponente.
Fischler afirmou que a UE está disposta a apresentar “a melhor oferta de sua história” para o Mercosul, incluindo todas as áreas de interesse do bloco sul-americano – especialmente a agricultura. Mas, em troca, quer um sinal de que o bloco latino fará uma oferta objetiva para compras governamentais e melhorias nas propostas de bens, serviços e investimentos. O cronograma prevê a assinatura do acordo até este mês de outubro.
Ousadia – Para o presidente da Comissão Nacional de Comércio Exterior da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Gilman Viana Rodrigues, poderá haver um estancamento das conversações se ambos os lados não ousarem mais.
“Entendo que o Mercosul deve ter uma oferta para a área de serviços, investimentos e compras governamentais, mas, ao mesmo tempo, exigir acesso amplo para produtos em que somos competitivos, como açúcar e álcool, suco de laranja, carnes, leite, tabaco, café solúvel e calçados”, afirmou Rodrigues.
Já o presidente da Anfavea, Rogelio Golfarb, manifestou preocupação com a redução das chances de exportação de veículos automotores para a UE, que passaria a fazer “compras em casa” em função da entrada dos países do Leste europeu. Isso porque, nessas nações, a mão-de-obra mais barata e especializada já está atraindo a atenção de montadoras internacionais.
Reforço à indústria – Osvaldo Douat, presidente da Coalizão Empresarial Brasileira, observa que, com o acordo UE-Mercosul, o Brasil terá de competir com a melhoria industrial dos novos membros. Segundo ele, a força com que o impacto será sentido dependerá do segmento industrial.
Para que o Brasil possa reverter um possível cenário desfavorável no futuro, Douat sugere duas medidas urgentes. A primeira seria o aumento da competitividade produtiva e de exportação de manufaturados e a segunda, a definição de um quadro regulatório para atrair os investimentos estrangeiros, principalmente na área de infra-estrutura.
Mas, no curto prazo, a rota desses investimentos corre o risco de ser alternada da América Latina para os novos membros da UE. Essa é, segundo o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto Castro, a primeira desvantagem para o Brasil da ampliação européia. Por outro lado, ele destaca que o País terá a seu favor um mercado ampliado de consumidores. “Hoje, a maioria tem baixo poder aquisitivo, mas com tendência de elevação rápida do poder de compra e de maior importação.”
Paz e prosperidade – O vice-presidente de Comércio Exterior da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Renato Abucham, vê com otimismo a ampliação da União Européia, abrigando sob a mesma bandeira países que já viveram guerras. “A paz traz prosperidade”, afirmou. Ele lembra que a ACSP é a favor de qualquer acordo de livre comércio que aperfeiçoe e elimine barreiras, e vê com frustração o impasse nas negociações UE-Mercosul.
Para Abucham, o que falta ao Brasil é controlar melhor suas contas públicas. “A indisciplina fiscal é ruim para o povo. O superávit da balança comercial não deveria ter tanta importância e nem ser obtido através de subsídios que inflacionam e criam déficits, pois essa é uma conta que todos pagamos depois”, concluiu.
Rachel Melamet