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Uma coincidência que não acontece há 900 anos

Uma seqüência de horário e data que não ocorre há quase 900 anos e só vai repetir-se em 110 anos desperta curiosidade e, em alguns, sentimentos místicos. Um encontro com o número dois está marcado para esta quarta-feira às 20h02, dia 20/02 de 2002. É uma capicua – grupo de algarismos que, lidos da esquerda para a direita, ou vice-versa, dão o mesmo número. Ou um palíndromo, quando ocorre a mesma coisa com palavra ou frase.

“Cada bloco – hora, dia e mês, ano – soma o número 4, e quando ele se repete assim é porque está-se abrindo um portal de conscientização para mudanças com muita disciplina. Rígido, ele pede que as coisas se organizem hoje ou vai haver o caos amanhã”, diz a numerologista e terapeuta holística Filó Gianelli.

Para ela, o 4 é o alicerce, a estrutura e não admite erros. “É o caso da segurança pública, dos médicos. Só aparecem quando falham. Veja como a segurança está sendo muito cobrada pela população.” Nesta terça-feira mesmo, ela se preparava para mandar e-mails a amigos, fazendo um convite à meditação nesse horário tão especial. “Sugiro que a pessoa se imagine dentro de uma luz dourada e chame para si aqueles a quem magoou e peça perdão. É o momento adequado para isso também.”

“Toque do universo”

Para a atriz, numerologista, taróloga e astróloga Norma Blum, do Espaço Saber Ser, o horário deve ser desconsiderado. Sobram a data e o ano, com muitos números 2 – responsável pelos relacionamentos – e 8 na soma dos números (2+0+0+2+2+0+0+2= 8) – que significa o plano material. “O 2 representa o desafio, o confronto, e o zero é o começo e o fim de tudo. O 8 é ao mesmo tempo a matéria e o desafio cármico.”

Nesta quarta-feira, ela aconselha as pessoas a refletirem sobre seus relacionamentos de qualquer espécie e como estão lidando com a vida material. “Quem for místico pode aproveitar para fazer uma meditação exatamente nesse horário nesta quarta: 20h02. Essa conjunção de números é como um toque que o universo está dando na pessoa. Se ela aproveitar, pode crescer.”

Aspecto curioso

Para o professor do Departamento de Matemática da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Othon Winter, a seqüência que vai ocorrer nesta quarta-feira, do ponto de vista acadêmico e científico, não tem significado. “Conta mais o aspecto curioso. Mas a data não tem o menor sentido matemático”, alertou Winter.

Estudioso dos calendários, ele lembrou que as datas são meros acasos históricos. “Ocorreram várias mudanças por questões políticas ou administrativas de dias, meses e até anos ao longo de séculos.”

Admiração

Numerologismos à parte, a coincidência numérica deixou curioso o físico Paulo Leme. Tanto que ele se encarrecou de espalhar pela internet uma mensagem sobre a seqüência que também recebeu pela rede. “É interessante, uma ocorrência única, mas sem nenhuma conotação extra. Sou cético como físico sobre esse assunto.”

Ele admite que é a capicua com referência a tempo mais sofisticada de que já teve notícia. Segundo Leme, quando o próprio sistema se ordena, como nessa data e hora, há o reconhecimento da organização do caos. “Isso me deixa admirado.”

Palíndromos famosos

Mas o que o físico costuma mesmo reparar é nos palíndromos. “Gosto de ler as palavras ao contrário para ver se significam a mesma coisa ou têm outro sentido, como a máquina de costura Leonam, que é Manoel quando lida de trás para frente”, explica.

E ele guarda algumas curiosidades, como um dos palíndromos mais famosos e incoerentes de que se tem notícia: “Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos.” O escritor Raul Drewnick também citou a mesma frase em uma crônica publicada no Caderno Cidades do Estado em 1996. “Era o maior de que se tinha notícia”, afirmou o escritor.

Pelo menos até o dia em que, por causa da publicação, recebeu do engenheiro Adervam Machado o seguinte grupo de palavras que, lido ao contrário, era a mesma coisa: “Luza Rocelina, a namorada do Manuel, leu na Moda da Romana: ?Anil é cor azul?.” Drewnick, que acha os palíndromos uma grande curiosidade, guardou de memória outra contribuição do engenheiro: “Me vê se a panela da moça é de aço, Madalena Paes, e vem.”

Marisa Folgato

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