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Um mundo de possibilidades para o Brasil

Guarulhos, 28 de fevereiro de 2005

O Brasil, e principalmente São Paulo, tem uma relação estreita com o Japão. Aqui vivem mais de 1,4 milhão de japoneses ou descendentes, que formam a maior comunidade nipônica do planeta fora do Japão. Entretanto, o comércio entre os dois países não atingiu a maturidade das relações interpessoais.

No ano passado, o Brasil exportou R$ 2,7 bilhões para o Japão e importou R$ 2,8 bilhões, ficando com um déficit de R$ 100 milhões. Mas os valores poderiam ser muito maiores. Segundo o Japan External Trade Organization (Jetro), órgão ligado ao Ministério da Economia de lá, os japoneses estiveram interessados apenas nos países asiáticos nos últimos anos e, somente agora, voltaram-se para as nações da América Latina.

Além disso, explica Walter Iihoshi, vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e presidente licenciado da Shizen Cosméticos, o Japão perdeu muito dinheiro no Brasil nos anos 80, com as crises que cercaram todos os países latinos. “As empresas saíram daqui às pressas para não perderem mais dinheiro. Na década seguinte (anos 90), foi o Japão que entrou em recessão e as relações ficaram ainda mais distantes”, afirma Iihoshi.

Tempo diferente – Mais recentemente, os empresários asiáticos perderam novas oportunidades de investimentos com as privatizações no Brasil. “Os japoneses têm um tempo diferente para negociar, eles ponderam mais, exigem garantias e têm mais receio”, explica o analista político e econômico da Jetro, Alexandre Uehara.

Atualmente, na pauta das exportações brasileiras para o Japão estão apenas produtos primários como minérios de ferro, frango, alumínio, café e soja. De lá para cá, vêm manufaturados ligados ao setor automotivo e eletroeletrônico, como auto-peças, engrenagens e circuitos integrados.

Além do comércio, os dekaseguis, isto é, brasileiros descendentes de japoneses que trabalham no Japão, enviam ao Brasil em divisas cerca de R$ 2 bilhões anuais, de acordo com os dados do Banco Central (BC).

Futuro – Entretanto, para os próximos anos, os analistas acreditam que as relações comerciais entre Brasil e Japão crescerão. O país asiático, pressionado pelo protocolo de Kyoto, decidiu colocar 3% de álcool na gasolina. Isso exigirá 1,8 bilhões de litros de álcool por ano, e o Brasil é um dos maiores produtores mundiais da mercadoria.

O Banco de Cooperação Internacional do Japão (JBIC) já anunciou estar disposto a financiar o plantio de cana-de-açúcar e ajudar na construção e ampliação de usinas. Atualmente, o JBIC financia o aprofundamento da calha do rio Tietê, em São Paulo. Segundo o vice-diretor do departamento de desenvolvimento do JBIC, Toshitaka Takeuchi, o banco tem US$ 100 bilhões em ativos e uma carteira de empréstimos de US$ 8 bilhões destinados ao Brasil.

Além das boas perspectivas com o álcool, as relações entre os países podem se estreitar no comércio de frutas tropicais, principalmente manga. No entanto, o brasileiro ainda não sabe comercializar com os japoneses. “Eles são muito exigentes quanto a cor, forma e aparência dos alimentos e, para negociar, os brasileiros terão que mudarsu a mentalidade”, diz Uehara.

Fernanda Pressinott