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Tempo ruim para brasileira na procura por juros menores

Guarulhos, 27 de abril de 2005

Josefa Tavares (foto), que sonha em se tornar uma empreendedora

Diário do Comércio

Josefa Tavares Barros é brasileira, 40 anos, natural de Alagoas. Casada, mãe de uma filha, mora em São Paulo, em um bairro de classe média, na zona sul da cidade, e há 12 anos trabalha como esteticista. Sua renda mensal é de R$ 2 mil. A exemplo de muitos brasileiros, Josefa sonha em ter seu próprio negócio, se tornar uma empreendedora. Pensa em começar a montar uma clínica de estética. Para isso precisa de dinheiro. Precisa de crédito.
 
Como milhares de brasileiros, na segunda-feira à noite, Josefa ouviu, pela tevê, as palavras do presidente Lula sugerindo aos consumidores que pesquisassem juros menores nos bancos. Nem que para isso fosse preciso trocar de banco.

Ontem pela manhã, debaixo da chuva que caiu na cidade, Josefa saiu do trabalho às 11h30 com um desafio: encontrar uma taxa de juro significativamente menor do que a cobrada pela Caixa Econômica Federal (CEF), onde ela é correntista há 15 anos e onde os juros cobrados por um empréstimo pessoal chegam a 5,49% ao mês para um prazo de 24 meses. E que a convencesse a trocar de banco.

Espera – Entrou em uma agência da Nossa Caixa. Os juros, informou a funcionária da área de crédito, eram de 4,10% ao mês. Sim, mais baixos que os da Caixa. Mas apenas para quem é correntista do banco. Josefa não é e, assim, os juros, para ela, saem por 6,80% ao mês. Se Josefa trocar de banco, poderá pagar juros menores. Mas apenas depois de três meses. Esse é o tempo que o banco exige de relacionamento do cliente com a instituição para liberar o crédito. De imediato, nada feito.

A estetista tentou então o Bradesco. Encontrou juros de 5,7% ao mês. Sem muita diferença. Mas também precisa ser correntista. E pior: ao abrir uma conta no banco terá de esperar seis meses para tentar o primeiro empréstimo. “É exigência do banco”, diz o funcionário. Josefa suspira: “Parece que não dá para pegar um empréstimo”, diz.

Ladainha – Mais uma tentativa, agora no Unibanco. Em vão. O custo do empréstimo pessoal é de 5,85% ao mês com uma ressalva: para cliente novo, crédito só após três meses. Vai ao Itaú. Juros de 5,57%, com crédito após seis meses de conta. Ao HSBC. Juros de 6,2%, com empréstimo liberado após seis meses de relacionamento com o banco. E Josefa, duas horas depois, volta ao trabalho. “Acho que não vou montar minha clínica tão cedo quanto pensei”, diz em voz baixa. “O brasileiro não é acomodado. Ele simplesmente não encontra apoio. Todo mundo gostaria de juros mais baixos”, desabafa ela.

Se tivesse continuado sua andança, Josefa descobriria aquilo que nem mesmo o presidente Lula parece ter conhecimento: as taxas de juros dos bancos quase empatam. Pouco mudam. Ela se surpreenderia ainda mais ao saber que, para trocar de banco, outra receita dada pelo presidente do País como uma solução para o consumidor pagar menos juros, em alguns casos exige até mesmo uma carta de apresentação de um cliente antigo, para aqueles que não trabalham em nenhuma empresa. Comprovaria que sua andança foi em vão. Que a sugestão do presidente Lula de nada valeu a pena.

Saberia, ainda, que para ser uma empreendedora, no Brasil, não basta apenas tirar o traseiro da cadeira, como sugeriu o presidente em seu discurso, feito, por ironia, no lançamento de um programa de crédito.

De volta para o trabalho Josefa levou apenas uma certeza: a de que faz parte dos 180 milhões de brasileiros que hoje são reféns dos juros altos. A quem Lula chama de acomodados.

Roseli Lopes

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